Diogo Freitas encena um texto sobre os sistemas políticos vistos pela geração 1990.
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Num cenário pós-apocalíptico e numa comunidade distópica decorre "Tratado, a constituição universal", produção teatral encenada por Diogo Freitas, que está em cena no Teatro Carlos Alberto, no Porto, até domingo. Uma janela sobre o que uma geração de intérpretes, encenadores e dramaturgos nascidos nos anos 1990 pensa sobre a sociedade, as relações humanas, os sistemas políticos, num tempo em que está tudo hiperdocumentado e vigiado.
Nesta cacotopia ficcionada vota-se a cada cinco anos, celebrando a efeméride do Dia Internacional do Voto, em que cada cidadão vive no estado que mais lhe aprouver. Entre eles erguem-se muros para que não haja contaminação de ideais. A data é antecedida de uma noite em que ninguém pode dormir, alegadamente para que tenha a plena consciência das escolhas a realizar.
Num estado de desesperança, os sobreviventes da catástrofe encontram um registo vídeo de alguém que viveu antes deles e quando é interrogado sobre as suas escolhas opta por um mutismo seletivo.
Apesar de assegurarem que "nas despedidas não se pode olhar para trás", decidem gravar algo para o futuro, uma memória sobre o sucedido para alguém que virá.
Uma das personagens insiste: "Se vierem, não venham". Como um aviso à navegação proibida de um futuro inexistente. Nestas reflexões existencialistas, mais do que políticas, há quem insista num bem comum, enquanto outros entendem que a liberdade total leva apenas à descaracterização, uma perda do individualismo.
Quando não há regras para quebrar resiste apenas um nilismo latente, não há questionamentos, mas igualmente não há soluções. Quando todos são indomáveis nas suas vontades persiste a guerra, a xenofobia, o racismo e as lutas de poder e de opinião. Uma mostra de que a democracia nem sempre é uma ansiada página em branco.
"As piores pessoas não são as que matam, são as que morrem e continuam a andar", explica uma das personagens, garantindo que o medo persiste.
"Tratado, a constituição universal"
Teatro Carlos Alberto
Até domingo