Novo filme de Rodrigo Areias, “O Pior Homem de Londres”, chega esta quinta-feira às salas.
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Apesar do divórcio do público, um verdadeiro caso de estudo dada a sua raridade no panorama internacional, o cinema português continua vivo e a mostrar produções de grande qualidade e diversidade, em termos temáticos e estilísticos. Prova disso é a chegada hoje aos cinemas, um pouco por todo o país, de não um mas dois filmes legitimados pela presença internacional em festivais de primeira grandeza e grande exigência como Roterdão e Locarno.
São eles, respetivamente, “O Pior Homem de Londres, de Rodrigo Areias, e “Baan – Casa”, de Leonor Teles.
Rodrigo Areias, produtor e realizador que com a sua Bando à Parte tem levado cinema de Guimarães para todo o Mundo, surge agora num novo filme de que assina a realização mas leva a chancela do mais internacional dos produtores portugueses, Paulo Branco.
Escrito por Eduardo Brito, a que Branco tinha dado a possibilidade de se estrear na longa-metragem com “A Sibila”, adaptado de Agustina Bessa-Luís (outro caso de enigmático desprezo nas salas, quando o livro é capital no panorama literário), “O Pior Homem de Londres” centra-se precisamente numa figura internacional, mas de origem portuguesa. Trata-se de Charles Augustus Howell, nascido no Porto, filho de mãe portuguesa e pai inglês, que na Londres da segunda metade do século XIX, pululou nos meios artísticos britânicos, entre crítico e agente, mas com uma propensão muito especial para a chantagem. O título do filme de Rodrigo Areias repete aliás a forma como o lendário Arthur Conan Doyle apelidou este português.
Com um estilo clássico, uma reconstituição de época com valores de produção bem acima do que se poderia esperar num filme português, e um assombroso Albano Jerónimo à frente de um elenco internacional, “O Pior Homem de Londres” é uma boa surpresa a descobrir.
É através de um humor fino e mordaz que navegamos pelo meio de uma trama complexa, tecida em primeira instância por este português desenrascado de que agora se descobre o traço, permitindo a Rodrigo Areias e à sua equipa levar-nos a um período de grande efervescência artística a que o filme, nos seus pressupostos estéticos, presta homenagem.