Estar no lugar errado à hora errada, evoca sombras de um passado que se queria esquecido.
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Questionar, logo no título de uma mini-série, quem é a sua protagonista, é a melhor indicação para anteciparmos que, de certeza, Erin Carter (interpretada por Evin Hamad) não é quem parece, embora, no arranque, pareça uma pessoa normal, seja lá o que isso signifique. Inglesa de nascimento, vive em Barcelona, com o seu companheiro, Jordi (Sean Teale), e a filha adolescente, Harper (Indica Watson), e é professora substituta num colégio de elite cujo quadro de docentes aspira integrar. E tudo decorre pacificamente, até ao dia em que Erin e Harper são apanhadas no local errado, à hora errada, ou seja, num supermercado, durante um assalto à mão armada. Com a filha em perigo, Erin revela aptidões de reacção e de luta corpo a corpo fora do comum, imobilizando um dos assaltantes e provocando a fuga do outro. O mediatismo em torno da sua atitude, vai fazer ressurgir sombras de um passado que Erin desejava sepultado para sempre porque, afinal, nem tudo na sua vida é tão linear quanto dava a entender.
A partir desse momento, qual bola de neve imparável, vão suceder-se acontecimentos que vão destruir a vida tranquila que a família levava e criar uma teia de reacções em cadeia: Harper vai bater num colega, o que implicará problemas com vizinhos; um polícia amigo do casal, a viver uma separação difícil, vai mostrar um lado negro escondido; as tentativas desesperadas de Erin esconder aspectos menos vulgares da sua antiga existência vão sair goradas. Isto levará o espectador a conhecer aos poucos o passado da protagonista, percebendo quem ela foi e o que a levou a deixar quase tudo, para recomeçar a vida num lugar distante.
Nesta série inglesa de dupla identidade, com sete episódios, para além do dúbio fardo que Erin carrega, ao longo da narrativa há outras personagens que se vão revelando diferentes daquilo que o espectador foi levado a imaginar, o que faz com que a visualização avance de surpresa em surpresa, até ao final, quase apoteótico, provocado por um acumular em crescendo de situações limite que, inevitavelmente, deixa em aberto a possibilidade - a probabilidade? - de uma segunda temporada, que terá o ónus de um pressuposto inicial diferente porque, então, já saberemos quem é Erin Carter...