Hard Club encheu-se para ouvir o norte-americano.
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Sai-se do Hard Club, no Porto, desenganado: o último trabalho de Kevin Morby, mais polido e menos arriscado do que os seis anteriores, não lhe cerceou a veia roqueira e – e isso é uma excelente notícia. Anteontem, com a casa muito bem composta, o cantor e compositor norte-americano misturou temas de “This Is A Photograph”, o seu último álbum (na verdade, é uma espécie de álbum duplo, já que teve continuidade com “More Photographs”, já deste ano) com alguns “clássicos” de anteriores trabalhos.
O blend, de excelência, começou como terminou: energia a rodos pontuada por baladas alusiva à família, à nostalgia e à mortalidade. Gingão q.b., Morby é performativo. Entra no palco com purpurinas em volta dos olhos. Acopladas aos microfones estão (as já habituais) rosas vermelhas e brancas que há de atirar ao público em manhuços, lá para o meio do concerto. Antes disso, ataca um punhado de temas (de “This Is A Photograph” a “Rock Bottom”) em que vibram as guitarras, a bateria e o saxofone.
Ganha a confiança dos seguidores, baixa o tom. Com “Stop Before I Cry” inicia uma série de baladas cheias de coração, luxuosas e convidativas. Trata-se de uma infusão tão graciosa quanto apelativa de folk-rock com laivos de gospel e de uma espécie de soul vintage. É sobretudo por aqui que correm as reminiscências da norte-americana Memphis, o atual poiso de Morby que é também uma espécie de meca para gente tão grande como Johnny Cash ou Paul Simon, entre muitos outros.
A terminar como a iniciar: é aos riffs que o norte-americano se agarra para, entoando sucessivas loas a Portugal e ao Porto (“A cidade mais bonita da Europa”), mostrar por que razão “This Is a Photograph” merece sucesso: apesar da carga nostálgica que o atravessa, ou talvez por causa dela, Kevin Morby consegue entabular convidativas conversas com quem o ouve. A amplitude emocional é grande, os tons diversos, as paisagens múltiplas. Como numa boa fotografia.