Concerto de abertura do segundo dia de Paredes de Coura aconteceu no palco secundário, no final da tarde desta quinta-feira. Palmas, punhos no ar e lágrimas emotivas fizeram parte do cenário. Artista apresenta-se novamente esta sexta-feira, em formato intimista, no centro da vila.
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Marta. Susana. Claúdia. Madalena. Lucília. Elsa. Estes e outros nomes estavam registados num caderno. Eram, ao todo, 28. Página a página, acompanhados pelo respeito feito em palmas, Cátia Oliveira, mais conhecida como A Garota Não, foi mostrando ao público cada nome que carrega uma história. A história da morte. Mostrava-se ao público o nome de cada mulher vitimada pela violência doméstica em 2022. “Morte”, dizia a última página. De seguida, ergueu-se uma folha em preto.
Foi depois de fazer soar “Mulher Batida”, faixa dos Orelha Negra interpretada por A Garota Não, que surgiu a homenagem. Não poderia ser encaixado em melhor oportunidade. “Quantos deuses/ É que o medo cria? / Semear a morte./ Sangue à terra fria.” A letra fala-nos de violência doméstica. O tal caderno, os tais nomes, materializam cada morte que pesa nas mãos da sociedade.
E se o repertório de A Garota Não é quase todo ele politicamente recheado, instigando à luta – não conseguiríamos dar conta de todos os punhos que foram colocados em riste – foi com esta música que a emoção, que vinha a fervilhar, atingiu o ponto de ebulição. Lágrimas foram avistadas naquele e noutro rosto, provando que a música ainda é forma de luta. Ainda é forma de denúncia.
O concerto de A Garota Não, responsável pela abertura do segundo dia do Festival Paredes de Coura, começou exatamente por afirmar, com “Canção sem fim”, que “Podem decretar o fim da arte/ E a gente faz uma canção sobre isso”. Falou-se ainda de habitação, com “Não sei o que é que fica”, que conta: “e eu que só vinha pra falar de amor/ deitar neste beat um poema em flor/ mas na porta ao lado há mais um despejo/ cai uma família, fica o azulejo”.
Apesar desse anúncio, houve sim espaço para se falar de amor, com “A Canção” a mostrar-nos que a melhor canção de amor é ele mesmo, o próprio amor. Só não ouve mais amor, e mais canções, pelo tempo reduzido do set. “Vocês batem palmas durante tanto tempo que vou ter de cortar duas músicas no final”, diz Cátia Oliveira. “Oh”, descontenta-se o público em uníssono. O término foi feito ao som de “Dilúvio”, uma das faixas mais conhecidas da artista, numa espécie de catarse de todas as emoções que correram ao longo das centenas de peles que assistiam a A Garota Não.
A dose será repetida, provavelmente num outro formato, mais intimista e reduzido, no centro da vila, no Quartel das Artes, esta sexta-feira, às 15.30 horas. A apresentação é enquadrada no Festival Paredes de Coura, na iniciativa Vodafone Music Session, que durante os dias do evento leva música a locais inusitados em torno do recinto.