Drama baseado em factos reais sobre a relação do príncipe Andrew com Jeffrey Epstein é um ensaio sobre os limites do respeito e a descoberta da verdade.
Corpo do artigo
Em 2023 (mais) um escândalo atingiu a família real britânica, quando o príncipe Andrew, irmão do rei Charles III, foi denunciado devido à sua relação próxima com o milionário Jeffrey Epstein. Este último, tinha sido preso devido a acusações de pedofilia, relativas a atos que teriam tido lugar no início deste século, tendo acabado por se enforcar na sua cela, na cadeia, em 2019.
"A grande entrevista" ("Scoop", no original) narra como as mulheres do programa televisivo "Newsnight" se movimentaram para conseguirem uma entrevista exclusiva com o príncipe britânico, para tentar determinar o seu envolvimento com Epstein e o grau de conhecimento que tinha das suas práticas abusivas.
De certo modo, pode dizer-se que a película está dividida em três partes. Na primeira, após a decisão de entrevistar o príncipe como momento principal de uma determinada emissão do programa, há uma intensa atividade de bastidores para conseguir esse objetivo e uma trabalhosa negociação para o convencer - e à Casa Real - a aceitar.
Depois, assistimos à preparação que ambas as partes fazem do programa, criando ou antevendo perguntas, imaginando ou treinando as respostas ao pormenor, para que tudo sirva os objetivos de uns e outros.
Finalmente, tem lugar a entrevista propriamente dita, tensa, expectante e vivida ao pormenor, que se transforma num autêntico e estimulante jogo do gato e do rato.
Do conjunto, ressalta desde logo a soberba interpretação de Gillian Anderson (no papel da entrevistadora Emily Maitlis), depois de ter sido uma convincente primeira-ministra britânica Margaret Tatcher, em "The crown", e longe já do registo mais ligeiro, mas sempre icónico, da Scully de "Ficheiro secretos", a par da pose de estado de Rufus Sewell (príncipe Andrew) e da determinada Billie Piper (a produtora de TV Sam McAlister).
"A grande entrevista", disponível em streaming na Netflix, é uma ode ao grande jornalismo, mostrando como objetivos importantes, pertinentes e cruciais podem ser atingidos sem que sejam pisadas as fronteiras da decência, do respeito e do bom gosto, mesmo existindo uma relação de subserviência da todo-poderosa BBC em relação à coroa, que divide a estação e os seus jornalistas sobre as opções a seguir e o respeito pela ética.