Banda de Kristin Hersh edita o 11º disco, um trabalho maioritariamente acústico, irremediavelmente nostálgico e assombrosamente bonito.
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"Finalmente a vida como ela deveria ser", canta Kristin Hersh, 58 anos, ar de eterna miúda, voz no espetro oposto, áspera, arranhada, como aliás sempre foi. O tema é “Summer of love”, o disco “Moonlight concessions”, 11.º trabalho dos Throwing Muses e sucessor do aclamado “Sun Racket”, de 2020. O regresso do trio traz ao mundo um dos discos mais bonitos dos últimos meses, uma viagem a sons do passado guiada por um grupo que consegue ser igual e fiel a si próprio, e ainda assim tão original e relevante como era há 40 anos.
Com a formação de Kristin Hersh (voz e guitarra), David Narcizo (bateria) e Bernard Georges (baixo) – a mesma desde “University”, de 1995, os Throwing Muses vão-se conseguindo reinventar, variando, arrojando, mas sempre com a mesma fórmula: muito focada na voz única de Hersh, nas letras poéticas e cáusticas, nas sonoridades indie e esotéricas, com tanto de melodia como de caos.
Cinco anos depois de um disco mais virado para as guitarras, “Moonlight concessions”, editado a 14 de março, é um regresso aos básicos: primeiro o sol, agora a lua, num álbum quase acústico, nostálgico, assombrado, com arranjos orquestrais e desafinanços articulados, violinos e violoncelos, um trabalho irremediavelmente nostálgico e assombrosamente bonito.
Foi há décadas que parecem vidas que Hersh formou os Throwing Muses com amigos da escola e a sua meia irmã, Tanya Donelly, que também continua na estrada com as suas Belly, outro grupo que marcou, e segue a marcar, o panorama musical. Os Muses viriam a tornar-se uma das maiores bandas do indie dos anos 90, lançando álbuns de culto, e entre pausas e carreiras a solo têm tido um regresso a soluços, mais consistente nos últimos tempos. Composto ao longo da costa sul do Golfo do México e gravado nos estúdios Stable Sound na sua natal Rhode Island, “Moonlight concessions”, promete agradar a todos os fãs, transportando-os ao lado mais melódico porém atormentado dos anos 90 – e, quem sabe, enfeitiçar novas gerações.
“Três amigos tímidos de uma pequena ilha [Rhode Island], a curtir como tudo”, é como Hersh descreve a sua banda na página da editora, a Fire. “Ainda tocamos porque somos viciados no barulho; e porque nos amamos”, conclui.