
Há um legado de Linkin Park que os próprios não abandonaram
Foto: João Girão / Arquivo
Banda norte-americana regressa aos discos pela primeira vez após a morte do vocalista Chester Bennington, em 2017. Emily Armstrong e Colin Brittain (baterista) são os novos elementos que acompanham a banda no lançamento de “From Zero”, disponível na integra desde esta sexta-feira de manhã.
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Talvez “From zero” – numa tradução literal para o português, “do zero” – possa ser a expressão da vontade da banda. Linkin Park querem começar de novo, ser a banda de sempre, mas não propriamente a mesma. Ouvindo o novo disco – o primeiro lançado desde a morte de Chester Bennington, em 2017 – ficamos, no entanto, com uma ideia clara: nunca se começa exatamente do zero. Há um legado de Linkin Park que os próprios não abandonaram. E ainda bem.
“From zero” é simultaneamente um recomeço e uma continuação. Nas 11 faixas que compõem o (curto) álbum, podemos encontrar várias fases da banda norte-americana. “The emptiness machine”, primeiro single do disco, é um exemplo. Compila as caraterísticas que deram a Linkin Park o tamanho que hoje têm, entre elas a batida pesada, mas não acelerada, explosiva ou abrasiva. Apesar da sensação de familiaridade, todas as faixas trazem, ao mesmo tempo, uma sensação de limagem. De modernização, talvez. Em grande parte pela frescura da nova voz – a de Emily Armstrong (mas já lá vamos).
Sem ir para o campo das experiências e a banda tentar ser algo que nunca foi, “From zero” acaba por ser o álbum, em certo sentido, mais completo do seu histórico. Vai de uma abordagem mais pop, como podemos sentir em “Stained”, até à fase mais pesada de Linkin Park, com “Casualty” – música que tinha sido já apresentada ao vivo, antes mesmo da publicação do disco.
Do primeiro ao último disco
Se a introdução de pouco mais de 20 segundos nos permite entrar num ensaio ou momento de gravação em que ouvimos Emily questionar “do zero?”, a viagem seguinte leva-nos a referências que vão do álbum “Hybrid Theory” (2000) até ao último disco com Chester, “One More Light”. Feitas as contas, este é um álbum de continuação, que não procura cativar novos públicos, mas certamente não desagradará aos já fiéis.
Principalmente pela voz de Emily Armstrong, há, no entanto, um toque de novidade subtil que se vai sentindo um pouco por todo o álbum. A nova vocalista cumpre de forma exímia esta viagem por várias fases de Linkin Park. Tanto nos encanta com vocais quase líricos, como no momento seguinte nos pontapeia, mostrando a sua capacidade de fazer qualquer grito soar bem – tome-se como exemplo a sua prestação em “IGYEIH”. Novo no grupo é também o baterista Colin Brittain, a substituir Rob Bourdon, que estará, por opção, fora da digressão.
Há ainda a destacar a visível – ou audível – presença de Mike Shinoda, o criativo (também responsável por parte da voz e instrumentais) por detrás de “From zero”. A sua herança no hip-hop e no rap está substancialmente presente em, por exemplo, “Two faced” – alargando os limites do que considerávamos Linkin Park, sem nunca parecer despropositado ou fora do lugar.

