Filme rodado na vila de Baião, distrito do Porto, realizado por António Sequeira, é um bom exemplo de produção independente e sem subsídio estatal. Estreia esta quinta-feira nas salas.
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É um filme português, é generoso, mas não tão mediático como outras estreias, e corre o maior risco que pode acontecer a uma obra cinematográfica: ser ignorado!
Chama-se “A minha casinha” e apresenta a frase “um filme português para os portugueses”. É uma afirmação ambígua, ao mesmo tempo “perigosa” e assertiva. É que pode criar a ideia de estarmos na presença de um daqueles filmes feitos “para o público”, e que apostam normalmente num humor boçal e numa “estética” televisiva, embora tenha a boa pretensão de tentar remar contra a forte maré do quase completo e incompreensível desprezo do espectador face ao cinema português: os números, catastróficos, são exemplo disso.
“A minha casinha” foi escrito e realizado por António Sequeira, um jovem que tomou a decisão de ir estudar cinema para Londres e, para quem só olha para filmes com estes sinais de prestígio atrelados, traz consigo a chancela de ter passado pelo Torino Lab, um dos mais importantes dispositivos mundiais de acompanhamento de escrita e desenvolvimento de projetos independentes.
E o filme de António Sequeira é totalmente independente, produzido pela sua própria companhia e sem financiamentos públicos.
Deve-se em grande parte ao apoio logístico do município de Baião, onde se insere então a história de uma família que vê o seu filho mais velho ir estudar para Londres. No regresso a casa no final do ano letivo, já com a sua companheira estrangeira, descobre que a irmã tem o mesmo sonho mas não sabe como o dizer aos pais.
“A minha casinha” não quer ser mais do que é. É realmente uma história portuguesa, mas com uma dimensão universal. Consegue, apesar da escassez de meios, manter identidade visual e narrativa.
Tem atores pouco conhecidos - Beatriz Frazão, Elsa Valentim e Sara Barradas, entre outros -, mas que podiam ser os nossos pais ou irmãos. Parece ingénuo, porque é um “feel good movie”, é para sairmos bem dispostos da sala de cinema, apesar de ter coisas importantes para dizer.
Se viesse do outro lado do Atlântico e com estrelas conhecidas seria um sucesso. É nosso, vão descobri-lo.