Se pudéssemos criar um parceiro através de um menu, que detalhes escolheríamos?
Corpo do artigo
Há dois momentos de estranha clarividência nas histórias de amor: o instante em que começam e o exato segundo em que acabam. "Companion", filme de Drew Hancock, protagonizado por Sophie Thatcher e Jack Quaid, conta esse intervalo de tempo, mas com um argumento construído de uma amalgama de ficção científica, gore e alguma comédia.
Iris conhece Josh num supermercado, ele derruba um caixote de laranjas ao vê-la e desde então têm uma relação perfeita. Ainda que ela confesse ao espectador, logo nos primeiros minutos do filme, que o matou, revela-se uma namorada dedicada, desfaz-se nos agrados e o seu único objetivo é fazê-lo feliz.
Tudo parece decorrer sem sobressaltos, até ao convite para passarem juntos um fim de semana, numa casa isolada que pertence a um russo milionário - um detalhe de série B a palpitar ... Lá estão também Kat, melhor amiga de Josh e amante do russo, e um casal de gays, igualmente apaixonados e com pegajosos discursos sobre o amor que os une. Quando o russo assedia Iris, ela mata-o. Sim, sem preparação, sem sinais e sem nada que o faça prever já há sangue por todo o lado.
Este é o momento de viragem do filme. Iris é afinal um robot sexual criado apenas para servir os propósitos do seu dono, que pode modular-lhe o tom de voz, controlar os níveis de agressividade, de doçura e de inteligência.
Espécie de "Stepford wives", mas de tempos mais modernos. Apesar da louca matança que sucede, o filme não é mais do que uma metáfora para a morte do amor.
Quando está dotada da sua inteligência plena, a namorada dedicada apercebe-se que o sujeito do seu amor não é mais do que um homem medíocre, com fraco desempenho sexual, permeável à validação constante e incapaz de qualquer empatia.
Spoiler: ela sobrevive e, como Frankenstein, supera o seu mestre criador.