De 18 de agosto a 9 de setembro, Lisboa acolhe a 4.ª edição do Operafest, com destaque este ano para “Carmen”, de Bizet.
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"Entre o Céu e o Inferno; do prazer supremo ao medo mais profundo” é o tema do Operafest Lisboa 2023. À quarta edição, o evento nascido em pandemia e que celebra e divulga a ópera regressa mais forte do que nunca, com novas salas e uma programação diversificada.
Durante mais de três semanas, entre 18 de agosto e 9 de setembro, pelo Operafest Lisboa vão passar três das óperas mais famosas de sempre. Tudo começa com “Carmen” de Bizet (no Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, de 19 a 25 de agosto), a segunda ópera mais vista em todo o mundo, de volta a Portugal. O supremo “grito da emancipação feminina”, aqui numa encenação de Tonán Quito, encarnada pela meio-soprano Cátia Moreso ao lado do tenor mexicano Rodrigo Porras Garulo.
Segue-se, a 26 e 27 de agosto, uma dose-dupla que conjuga duas óperas num espetáculo: “Suor Angelica” de Puccini e a estreia absoluta de “Rigor Mortis” do jovem português Francisco Lima da Silva, com libreto de A. Baião Pinto. Por fim, chega o clássico “Flauta Mágica” (2, 3 e 5 de setembro às 21 horas), a última ópera de Mozart, numa versão em português de Alexandre Delgado, pensada para toda a família.
Segundo a soprano Catarina Molder, que dirige o evento produzido pela Ópera do Castelo desde a sua primeira edição, o tema escolhido este ano reflete a “dicotomia” da condição humana. A dualidade, no fundo, da nossa existência entre situações de “alegria, prazer, plenitude”, de um lado; e do lado oposto “o medo, o terror o sofrimento, com alguma conotação religiosa, do prazer associado ao pecado”.
Entre alegrias e tristezas, explica, “confrontamo-nos com a perda, porque na vida a morte é uma constante”. Toda a programação tem assim ligações a este mote, mas ele sente-se mais na dose-dupla de “Suor Angelica” e “Rigor Mortis”, frisa a responsável.
Aulas e uma rave operática
O evento, que se pretende firmar como uma monta do talento nacional de várias gerações, volta a ter como epicentro o Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga mas em 2023 estende-se a outros espaços: o Teatro Romano de Lisboa, o Centro Cultural de Belém e a Cinemateca Portuguesa.
Além dos destaques, o festival conta com uma performance de Gustavo Sumpta, “Forças Ocultas” no Teatro Romano, e estão também previstas conferências e cursos; filmes-ópera no arranque do ciclo cine-ópera, na Cinemateca Portuguesa, evocando o centenário do nascimento de Maria Callas; aulas de canto para amadores; o único concurso de ópera contemporânea do país – a Maratona Ópera XXI, apostando na
ópera em português; e ainda a emblemática festa final, a “rave operática” que encerra esta festa da ópera.
Segundo Molder, a necessidade de levar a ópera a novos públicos comprova-se no interesse das edições anteriores, que tiveram uma forte adesão de público e resultados inéditos de captação – 37% do público de 2022 terá ido, no Operafest, à ópera pela primeira vez.
“É preciso que a ópera se renove a todos os níveis: repertório; intérpretes; público. É muito importante para nós e, por isso, temos vindo a apoiar uma investigação de doutoramento aos públicos de ópera em Lisboa”, adianta a soprano, destacando sobre o evento: “os dados indicam um sucesso total que não se verifica em outras instituições”, com a organização a aproveitar inclusive a época de verão, para “contagiar a ópera com a loucura e a paixão de um festival pop”.
Num evento com um orçamento limitado, porém crescente – assim como é cada vez maior o apoio de parceiros, Catarina Molder conclui: “do nada, no Operafest fizemos um mundo. (…) Dêem-me meios que o céu é o limite”.