A peça que pergunta: mas, afinal, onde é que se situa o Teatro?

Os 20 anos de Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, servem de mote para refletir sobre o lugar do teatro, na estreia de "Tudo em Avignon e eu aqui", hoje, às 21.30 (repete amanhã, às 18 horas). Os diversos alter-egos de Chalino Sánchez assombram a atriz Rebeca Cunha - uma filha de Guimarães, criada no backstage do Vila Flor. Em comum, o cowboy mexicano e a vimaranense têm a vertigem que os arrasta para o palco.

É um espetáculo para ver "ao contrário": o público senta-se na caixa de palco, com a plateia vazia em fundo. E pergunta: afinal, onde se situa o Teatro?

Ana Fonseca, Daniel Seabra, Duarte Melo, Jacinto Cunha, João Cravo Cardoso, Iuri dos Santos, Martinha Carvalho e Rebeca Cunha dão corpo ao texto de Bruno dos Reis, diretor do Teatro Oficina, que também encena "Tudo em Avignon e eu aqui".

Os dois Cunhas da peça, pai e filha, representam o drama das suas próprias vidas. Ele foi motorista da Oficina, ela cresceu a seguir o pai, que "tinha a nobre missão de levar a companhia aos lugares", revela Bruno dos Reis. Foi assim que nasceu o sonho de ser atriz e de um dia subir ao palco Vila Flor.

Rebeca cumpre o seu sonho

O sonho de Rebeca concretiza-se hoje. Já podia ter sido; só não foi por causa de um carro capotado. O automóvel está em cena, de pernas para o ar, como muitas coisas na peça.

Chalino Sánchez é uma personagem, melhor, um fantasma, improvável na história. Diga-se apenas que o "Rei do Corrido" tinha uma atração fatal pelo palco. O cantor de narcocorridos foi ameaçado de morte: se continuasse a cantar seria assassinado - optou por continuar.

Desengane-se quem pensa que Chalino só aparece na versão "macho vaqueiro", que não vacila perante a morte. Há também Rosalino, nome de batismo, o lado sensível e feminino do mexicano que também cantava modinhas de amor. Chalino foi morto por recusar descer da fama e Rebeca sempre imaginou a sua vida nele.

Bruno dos Reis conclui que "Avignon" é "uma promessa que interrompe o tempo" e que materializa um destino suspenso por um acidente.

Há 24 anos Património da Humanidade

Guimarães assinala este sábado 24 anos da inscrição do seu Centro Histórico na lista do Património Cultural da Humanidade da UNESCO.

Às 17 horas, vários locais emblemáticos, como os largos do Trovador e da Oliveira e o Paço dos Duques, recebem o momento Património Iluminado. Às 18 horas dá-se o Brinde ao Património e, logo de seguida, é inaugurada a iluminação de Natal da igreja de N.ª Sr.ª da Consolação e Santos Passos.

Por fim, às 21.30 horas, na igreja de São Francisco, a Orquestra do Norte apresenta um concerto do Ciclo de Natal e, em paralelo, estreia "Tudo em Avignon e eu aqui", no Centro Cultural Vila Flor.