Nova temporada do Batalha Centro de Cinema, no Porto, arranca esta quinta-feira com o ciclo “Sob a superfície: A piscina no cinema”. Até 10 de novembro, há muito cinema para (re)descobrir.
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Lugar de prazer e privilégio, a piscina foi usada no cinema, ao longo das épocas, como representação de desejo e descoberta sexual, mas também como espaço de fantasia, mistério ou desigualdade social. É em torno destas várias declinações que se organiza “Sob a superfície: A piscina no cinema”, ciclo que arranca esta quinta-feira no Batalha Centro de Cinema, no Porto, e se estende até 10 de novembro, com filmes de Peter Greenaway, Jerzy Skolimowski, Henri-Georges Clouzot, Céline Sciamma ou Miguel Gomes.
Com o título mais antigo a pertencer a Jean Vigo – “La natation par Jean Taris, champion de France” (1931) – e os mais recentes a Charlie López (“Los nadadores”) e Jeamin Cha (“Nameless syndrome”), ambos de 2022, a viagem temporal foi um dos critérios na seleção, explica Lídia Queirós, uma das curadoras do programa.
“Quisemos apresentar filmes de várias geografias, épocas e estéticas que têm a piscina como protagonista”, diz ao JN.
Fronteira líquida entre realidade e sonho
À diversidade de ângulos, que vai do filme de artista ao musical aquático, e da Coreia do Sul ao Brasil, junta-se um conjunto de temas que se desprendem dessa relação da câmara com as piscinas.
Logo na sessão inaugural, esta quinta-feira à noite, que apresenta “The swimmer” (1968), de Frank Perry, protagonizado por Burt Lancaster, espelham-se vários assuntos que o ciclo aborda, diz a curadora: “A cinematografia do corpo na água, a fronteira líquida entre realidade e sonho, a água como portal da nossa existência, ou a sua simbologia como espelho de aparências e privilégio”.
Organizado em sessões duplas (a de hoje conta ainda com “Los nadadores”), o programa continua, dia 7 de setembro, com a curta-metragem de estreia de Miguel Gomes, “Entretanto” (1999), que tal como a sua parelha, também uma primeira obra, de Céline Sciamma, “La naissance de pieuvres” (2007), trata do despertar da sexualidade em adolescentes com duas situações de triângulos amorosos, onde também afloram questões queer.
O peso da piscina vazia
Um dos filmes destacados por Lídia Queirós é “Deep end” (1970), de Jerzy Skolimowski, que se integra num grupo de “obras menos conhecidas de autores famosos”.
Aqui surgem novos planos de significação na história de um jovem recém-empregado numa piscina pública em Londres, como explica o texto do programa: “ De que forma as dinâmicas interpessoais diferem quando uma piscina é pública? E quão pesada pode ser uma piscina vazia?”
A pura fantasia está representada nas coreografias exuberantes de “Million dollar mermaid” (1952), de Mervyn LeRoy, musical protagonizado pela “sereia de Hollywood” Esther Williams. Há também suspense associado às piscinas, como no thriller francês “As diabólicas” (1955), de Henri-Georges Clouzot.
Ou o papel que poderão ter na construção de uma comunidade, caso de “Dogtown and z-boys” (2001), de Stacy Peralta, que conta a história do grupo de skaters Zephyr, que nos anos 1970 ocupou uma série de piscinas vazias para ali experimentar novas manobras verticais que contribuíram para a evolução da modalidade.
E ainda há Loach, Õshima e os vizinhos
A nova temporada do Batalha Centro de Cinema promete fôlego e diversidade. A partir de sexta-feira recomeça o ciclo de Ken Loach, cineasta social, autor de obras premiadas com a Palma de Ouro de Cannes, como “The wind that shakes the barley” (2006) e “I, Daniel Blake” (2016), que serão exibidas até 20 de novembro.
No dia 11 avança já a retrospetiva “Nagisa Õshima: Cerimónias de transgressão”, que lida com os filmes do cineasta japonês, autor de “Império dos sentidos” (1976) e “Feliz Natal, Mr. Lawrence” (1983), que juntou no grande ecrã David Bowie e Ryuichi Sakamoto. Decorre até 20 de novembro.
Cinema fora do sítio
Ainda este mês, no dia 14, às 17.30 horas, desvela-se mais um capítulo do projeto “Vizinhos”, que visa implicar os moradores das redondezas no trabalho desenvolvido no Batalha.
Desta feita, com “Vai e Vem”, iniciativa que irá semear obras da Filmoteca do Centro de Cinema em lugares como o Orfeão do Porto, Café Java, Centro Comercial Alexandre Herculano, Kate Skateshop, restaurante Bangla Spicy ou Teatro Nacional São João.