
Miguel Simeão faz a voz de "Tai"
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Já está em exibição "Digimon Adventure: A Última Evolução Kizuna". Vozes portuguesas falam ao JN do fenómeno Digimon.
A série de animação nipónica "Digimon" marcou uma época e toda uma geração. Alvo já de várias sequelas, para televisão, videojogos e cinema, chega-nos agora novo capítulo, "Digimon Adventure: A Última Evolução Kizuna". Passaram dez anos desde o verão em que o Tai, Agumon e os outros companheiros viveram a sua aventura no Mundo Digital. A existência das Crianças Eleitas tem sido gradualmente reconhecida pelo mundo inteiro, e ver Digimon no mundo real tornou-se em algo menos invulgar.
Mas agora, os amigos seguiram os seus próprios caminhos e quando uma Digimon chamada Eosmon começa a causar incidentes por todo o mundo às Crianças Eleitas, Menoa e Imura, especialistas que estudam os Digimon, pedem ajuda ao grupo. Durante a batalha contra a Eosmon, algo de errado acontece às digievoluções do Agumon e dos outros: quando uma Criança Eleita se torna num adulto, o seu parceiro Digimon deixa de existir...
A ameaça do Eosmon espalha-se gradualmente. Tai não pode salvar os seus amigos se não lutar, mas se lutar significa que tem de dizer adeus ao seu parceiro mais cedo, e ele achava que podiam ficar juntos para sempre. Irá Tai lutar, mesmo que isso signifique perder um amigo tão próximo?
Quimbé, diretor de dobragens e Michel Semião, que faz a voz de Tai, não nos podem dar a resposta. Só mesmo indo ver o filme. Mas podem falar-nos do seu trabalho de dobragem, do fenómeno Digimon e de como foi particular fazer este novo capítulo da saga. "Fomos buscar o pessoal das primeiras temporadas, que foram um sucesso brutal na altura. Conseguimos conciliar os atores todos, são trinta e tal atores a fazer um filme. A nível de animação acho que este é o filme com mais pessoas alguma vez feito em Portugal", diz-nos Quimbé.
Michel Semião confirma. "Este trabalho celebra os nossos vinte anos de carreira enquanto atores dobradores. O Digimon foi um dos primeiros trabalhos que fiz quando me iniciei nas dobragens, é uma personagem que me é muito querida. E os Digimon tiveram um impacto tão grande nas crianças que a viram. E conseguimos juntar-nos quase todos. Este trabalho é muito especial nesse sentido."
O novo filme está direcionado para os mais novos, mas sobretudo para os que eram muito jovens há vinte anos. E que ainda hoje são fãs, como reconhece Michel Semião. "É muito comum sermos abordados nas redes sociais, para saberem determinadas curiosidades acerca das personagens que interpretamos. Tive a oportunidade de conhecer alguns e são mesmo muito fãs dos Digimons. Fartámo-nos de autografar cartazes do novo filme."
Quimbé dá mesmo um exemplo: "Um nosso técnico tem os cartazes autografados, tem as cartas todas". E acrescenta, "Vai ser um revival para as pessoas que na altura eram miúdos."
Perguntámos a Michel Semião o que via então quando era criança. "Vim de França para Portugal com cinco anos", recorda. "Comecei a ver animação em francês, quando era dobrado também. Quando cheguei a Portugal as minhas primeiras memórias são do "Belle e Sebastião" e do "Dartacão". Eu era o tipo de criança que acordava às sete da manhã, para ouvir o José Jorge Duarte, que hoje é meu colega. Em Portugal só havia dois canais e a animação estava reservada para o sábado de manhã e para pequenos períodos ao final do dia durante a semana."
O ator descreve então o que é o seu trabalho de dobragem. "A principal exigência é ser-se ator", refere. "Muita gente pensa que esta coisa da dobragem é um híbrido entre um locutor e alguém que gosta de fazer vozes. A principal ferramenta do dobrador é ser ator. Termos formação como atores e tudo nasce daí."
Michel Semião não tem dúvidas. "Muitas vezes, grandes atores não conseguem entrar neste registo. Na expressão muito particular que é a dobragem", diz-nos. "Temos de ter uma grande capacidade de interpretação espontânea, depois temos de saber utilizar muito bem a nossa voz., em diferentes registos, quer em expressões mais humanas, quando estamos a fazer imagem real, quer quando estamos a fazer bonecadas. Temos de conhecer o espetro completo das nossas vozes. Estamos a fazer várias coisas ao mesmo tempo: a ler, a interpretar, a ouvir o inglês e a olhar para a imagem."
Quimbé resume assim o que é o seu trabalho de direto de dobragem: "É dirigir a interpretação das pessoas, conseguir ir buscar esse feeling fantástico que se disponibilizou vinte e três anos depois. Houve pessoas que já não faziam isto, vieram de França, da Alemanha, da Austrália. A função do diretor é poder criar e pôr na boca do boneco e ajudar o ator. A dobragem é um trabalho de equipa, entre diretor, ator, técnico."
Michel Semião não está cansado de fazer vozes, como refere. "Ao fim de vinte e tal anos a fazer isto, continua a ser uma coisa de que gosto muito, continua a ser muito empolgante. Ao fim de tantos anos já existe uma zona de piloto automático. Mas também depende dos trabalhos. Há uns muito interessantes de fazer e outros que não são tanto. Mas hoje em dia, com a Netflix, com a dobragem de jogos para a Playstation, há todo um novo mundo que se apresenta na dobragem que nos permite explorar coisas que há dez anos não podíamos. Estávamos reduzidos à animação infanto-juvenil. Hoje há conteúdos para adultos que tornam o nosso trabalho mais interessante."
Quimbé também tem a sua forma de ver o que é um trabalho de dobragem, para um ator. "Interpretar é extremamente importante. É como se estivesses a ler um livro para crianças, mas as pessoas não podem perceber que estás a ler. Tens que interpretar e reviver a emoção do boneco. A interpretação é fundamental, é ler, é ouvir, é pôr a voz na boca do boneco. É divertir-nos. Quando consegues conciliar tudo isto, as coisas acabam muito bem feitas. Se não tiveres diversão naquilo que estás a fazer, aquilo vai ser uma grande porcaria. Estamos um dia inteiro dentro de uma cabina. Se não tiveres a palhaçada, as coisas não saem. E têm de sair de uma forma natural.
Finalmente, lançámos um desafio a Quimbé: caso fosse necessário e tal lhe fosse possível, quem escolheria para dobrar a sua própria voz. " Eu já fiz dobragens a mim próprio e foi dificílimo. Tenho trinta anos de dobragens. No Tom e Jerry fiz uma personagem que é o Spike, feito pelo Dwayne Johnson. E agora fiz o "Super Pets", onde dobrei o Dwayne Johnson outra vez. Temos umas vozes idênticas. Já dobrei o Nicolas Cage, já dobrei Arnold Schwarzenegger. Mas já dobrei o Dwayne Johnson tantas vezes que era bom que me dobrasse também a mim."
