“A reunião que arruma com todas as reuniões”: imprensa e fãs rendidos ao regresso dos Oasis
Irmãos Gallagher tocaram todos os êxitos em duas horas, num concerto muito antecipado e agora muito aclamado, que incluiu uma bonita homenagem a Diogo Jota. Será este o regresso da Oasismania?
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Depois de 16 anos, os irmãos Gallagher estão de volta, e parecem querer fazê-lo com a garra que sempre lhes foi associada. Esta sexta-feira, 4 de julho, em Cardiff, deu-se o arranque da muito antecipada digressão de regresso do grupo de Manchester: uma série de datas há muito anunciadas, logo esgotadas, com o valor dos bilhetes a inflacionar de forma inusitada devido à dinâmica de preços – a banda até brincou com isso no concerto –, e que pode ser, ou não, o prenúncio de um retorno completo, com mais digressões, novos discos, quem sabe novos fãs e nova Oasismania, como a que marcou o final dos anos 90. Tudo incerto, menos isto: a avaliar pelas muitas críticas da imprensa britânica, e pelas ainda mais partilhas dos fãs, o primeiro concerto da tour de reunião não podia ter corrido melhor.
Desta vez, não houve discussões em palco, como acontecia com alguma regularidade entre os dois irmãos, Liam e Noel Gallagher, numa constante picardia mútua (e com o mundo) que culminou de forma épica em 2009, durante a Dig Out Your Soul Tour, quando uma discussão nos bastidores entre os dois músicos levou ao cancelamento do concerto no Rock en Seine em Paris, a 28 de agosto desse ano. Tudo terá acontecido nos camarins, minutos antes de entrarem, e terá havido guitarras partidas (e muito mais) à mistura.
Foram depois 15 anos de “guerra fria” entre os artistas, como muitos referiam: ambos continuaram a tentar carreiras a solo, até tocavam temas dos Oasis em concertos próprios, mas reza a lenda que nem se falavam. Até que no ano passado, veio a notícia: a 27 de agosto de 2024, data estranhamente parecida à da rutura, a banda britpop, conhecida pelos seus êxitos intemporais como “Wonderwall” e “Don’t look back in anger”, anunciou a digressão de regresso, com início a 4 e 5 de julho de 2025 em Cardiff, no País de Gales, antes de passar para quatro datas em Manchester, quatro no estádio de Wembley, em Londres, duas em Edimburgo e duas em Dublin, a 17 de agosto.
Depois desta primeira mão cheia de concertos, foi-se seguindo o anúncio de mais datas por todo o Mundo, numa tour que já inclui vários continentes. Portugal ainda não foi contemplado, sendo porém possível que ainda venham a ser adicionadas mais.
Homenagem a Diogo Jota e 23 canções
O que nos leva à noite desta sexta-feira, em Cardiff, onde, perante milhares de fãs, 75 mil, Noel e Liam Gallagher entraram logo com uma dupla mensagem: ao som da faixa “Hello” (a letra a dizer como “é bom estar de volta”) e de mãos dadas no ar, comprovando as tréguas, se dúvidas houvesse. Antes, ouvia-se nas colunas “This is not a drill”, ou “isto não é um ensaio”, ecrãs com as muitas parangonas sobre a banda e o regresso.
Em palco, às 20.15 horas marcadas, estavam Liam Gallagher (voz), Noel Gallagher (guitarras e voz), Gem Archer (guitarras), Paul “Bonhead” Arthurs (guitarra, um dos fundadores), Andy Bell (baixo), Joey Waronker, baterista que tocou com os REM, e o teclista Christian Madden.
"Sim, gente bonita! Passou muito tempo!" foram as primeiras palavras de Liam aos fãs. Durante duas horas certas, foi depois um desfilar de êxitos, de “Morning glory” a “Some might say”, de “Cigarettes & alcohol” e “Supersonic” a “Roll with it” e, claro, “Wonderwall”, “Don’t look back in anger”, ou “Champagne supernova”.
No final da interpretação de “Live Forever”, o grupo homenageou Diogo Jota, futebolista português falecido esta quinta-feira aos 28 anos, tal como o irmão André Silva, num acidente de viação em Espanha.
O momento foi um dos mais tocantes e um dos mais partilhados em todo o Mundo, sobretudo pelo impacto óbvio que a partida precoce dos dois jogadores está a ter, mas também pelo facto de os Gallagher serem adeptos fervorosos do Manchester United, rival do Liverpool onde o português jogava, numa manifestação de que, em momentos como estes, todos se unem e os clubismos se secundarizam.
Quanto ao conjunto do concerto, as criticas não podiam ser melhores: a começar pelas dos fãs, que multiplicam partilhas elogiosas e de melhores momentos, com declarações como “nada nunca irá superar esta noite”, muitos surpreendidos pela qualidade da voz de Liam e por a setlist incluir todos os êxitos. Alguns vídeos no YouTube, colocados há poucas horas, já têm dezenas de milhares de visualizações – entre as muitas partilhas, é possível rever praticamente toda a noite na plataforma. “Ouvi alguém agora ao meu lado dizer: ‘eu teria pago 10 mil libras por isto’”, dizia uma fã à Sky News, à saída.
Os elogios ressoam na imprensa especializada: a NME destaca como eles parecem bem, soam incríveis e, mais importante, “querem estar ali”. A Uncut brinca com o título do seu maior disco, frisando como este foi um regresso em completa “Morning glory”.
A BBC destaca como os irmãos não comunicaram entre si durante o concerto mas “cantaram juntos perfeitamente” e a nova banda “soou enorme, quase explodindo o teto”. Na última tour dos Oasis, ainda antes da quebra, as críticas apontavam a problemas de voz, de química, de energia, até o interesse do público parecia esmorecer. Agora, pelo menos neste primeiro momento, parecem “ter redescoberto a sua centelha. A banda soa energizada, rejuvenescida, até”, diz o meio britânico.
Já o “The Independent” garante que os Oasis trouxeram “a reunião do rock para acabar com todas elas”, ficando difícil “imaginar outro retorno numa escala tão importante”. Fala-se em velhas e novas gerações de fãs presentes, num novo fulgor mesmo nas canções antigas e tocadas à exaustão como “Wonderwall”, de um fenómeno que tem poucos precedentes na música, em diversas dimensões, desde a sonoridade, ao fervor dos fãs e até às polémicas. Em Cardiff, Liam terá resumido, agradecendo “por nos aturarem ao longo dos anos”.
Numa digressão que já vai longa de datas anunciadas, mais de 40, a banda atua esta noite novamente no Principality Stadium e segue depois para cinco noites na sua Manchester natal, no próximo fim de semana.
A setlist da estreia
“Hello”; “Acquiesce”; “Morning glory”; “Some might say”; “Bring it on down”; “Cigarettes & alcohol”; “Fade away”; “Supersonic”; “Roll with it”; “Talk tonight”; “Half a world away”; “Little by little”; “D’You know what I mean?”; “Stand by me”; “Cast no shadow”; “Slide away”; “Whatever”; “Live forever”; “Rock’n’roll star”. Encore: “The masterplan”; “Don’t look back in anger”; “Wonderwall”; “Champagne supernova”.