"Soulèvement" significa movimento de revolta, de insubmissão, de insubordinação. É sobre esse tema que a bailarina e coreógrafa Tatiana Julien, a mais nova da "embaixada francesa" que por estes dias se instala no Grande Porto, se debruçou para criar o solo que apresenta no Festival Dias da Dança.
Corpo do artigo
A artista de 33 anos afirmou, em entrevista ao JN, ter criado esta peça num "impulso único, como quem carrega malas muito pesadas e repentinamente quer libertar-se delas". Julien começou por inspirar-se na obra "O homem revoltado", de Albert Camus. "Soulèvement" foi apresentado por Tiago Guedes, diretor artístico do DDD, como um cruzamento entre um "desfile de moda e um combate de boxe".
A linguagem coreográfica ganha corpo como uma forma de retórica extraída da gestualidade do jogo eletrónico "Fortnite", mas também do voguing e do hip-hop. Recorre ainda à gestualidade da dança contemporânea e às palavras de músicos, políticos e filósofos consagrados (Albert Camus, Jack Lang, André Malraux, Gilles Deleuze, Patti Smith) e aos ensinamentos retirados da música da cantora, compositora e atriz francesa Mylène Farmer sobre a "Geração Desencantada".
Tatiana Julien é herdeira do maio de 68 mas também das "políticas culturais utópicas" dos ministros da cultura Malraux e Lang. Estudou no Conservatório Nacional de Música e Dança de Paris e na Universidade de Paris. Foi intérprete de Boris Charmatz, Thomas Lebrun, Olivia Grandville.
Em 2010, foi selecionada para o concurso Danse Élargie com primeira peça, "La mort & l'êxtase". Um ano depois funda a companhia Interscribo.
"Soulèvement" sucede a "Turbulence", uma criação site-specific para o castelo de Vincennes. Durante dois anos, Julien fez apresentações em museus da Europa, incluindo o Louvre, em Paris, e a National Gallery, em Londres, como parte da operação Museus Dançantes.
A propósito de "Soulèvement", diz Tatiana Julien: "Dançar é uma forma de ganhar liberdade, resistir também. Contamina as pessoas e a revolta pode-se tornar uma festa".
"Soulèvement", de Tatiana Julien, sexta-feira 22 e sábado 23 no Palácio do Bolhão (Porto) , às 22 horas.