Teresa Paixão, diretora de Programas da RTP2, explica ao JN como transformou o canal num lugar de luxo com um orçamento anual de 7,2 milhões de euros.
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É um canal "adulto e culto", que tem como ponto de honra a inclusão, "a vontade de que o espectador perceba, desfrute e aplauda". Um canal que "não infantiliza as pessoas". A regra é expor a população ao melhor que há no mercado internacional, seja nas artes de palco, nos documentários, nas séries ou no cinema (ler ficha). É este o bilhete de identidade da RTP2 há cinco anos, desde que Teresa Paixão assumiu a Direção de Programas de um canal que transformou num lugar de luxo.
"Quis criar um canal cultural em que se notasse que é um privilégio e não um sacrifício assistir aos programas; é um canal alegre, não é para remissão dos pecados", explicou ao JN a mulher que diz ser "muito apagada porque muito estudiosa", que entrou na estação pública em 1985 pela programação infantil, era Portugal e o Mundo um território muito diferente. "Saber sabe bem", insiste. "É um canal que diz às pessoas que todos podemos elevar-nos pelo conhecimento".
Diversidade e inclusão
A RTP2 tem um orçamento anual de 7,2 milhões de euros, não chegaria para fazer uma novela, e uma equipa de 12 pessoas, nove mulheres e três homens. A audiência não cresce - a média oscila entre 1% e 1,4% -, admite, mas cresce a reputação. "Vivemos num Mundo em que tudo é mais rápido, a crítica e o elogio. O reconhecimento é muito bom". E esse barómetro é quem mais ordena na cabeça de quem não cede na exigência. "Não me levo a sério, mas levo muito a sério a responsabilidade de programar um canal com dinheiro dos contribuintes".
A diretora do canal 2 garante que nunca ultrapassou um orçamento. "Aceitei uma missão para fazer o melhor que puder com aquilo que tenho, e não com aquilo que não tenho. Coloco as minhas energias todas no cumprimento do serviço público, tendo sempre presente que as pessoas são diferentes, nasceram em sítios diferentes, têm graus culturais diferentes, mas todas merecem ver o que há de melhor". Aliás, diz a rir, é contra a frase que preconiza que "para quem é, bacalhau basta". Para ela, "para quem é, este é o melhor bacalhau encontrado na Terra Nova". Pode ser um programa "para 10 pessoas ou para cem mil", diz.
Teresa Paixão é, acima de tudo, curadora. "Não faço negócios, faço escolhas", grata por quem "regateia preços" por ela. Cuida do canal como quem programa uma temporada de um equipamento cultural. Foi assim no primeiro confinamento e voltará a ser assim agora. "Vamos deslumbrar as pessoas, dar-lhes o melhor que temos".
Essa vontade levou-a a descobrir a Escandinávia em 2020 com o mesmo arrojo com que a televisão portuguesa descobriu o Brasil e as novelas depois do 25 de Abril. Foi assim que programou a série dinamarquesa "Borgen" ou a islandesa "Felizes mas não para sempre", série "atrevida", diz, "que só pode chocar quem se choca mais com fazer amor do que com matar".
Para apresentar uma grelha que tanto inclui a coreógrafa canadiana Crystal Pite, quase desconhecida em Portugal, como um ciclo de filmes que nunca estrearam em sala, "não é preciso coragem, é preciso convicção". Teresa Paixão acredita, acima de tudo, "no direito a sentir e a aprender".
Aprendeu, também ela, que "a má língua é um património", vai haver sempre quem diga mal, também já o fez. Quando chegou ao cargo em 2015, desafiada por Nuno Artur Silva, comprometeu-se interiormente em três coisas: "não desonrar a confiança" que depositaram nela, "não fazer esperar ninguém e evitar a todo custo dizer nim".
Grelha
Biografias femininas
Quando assumiu o leme da RTP2, Teresa Paixão detetou uma lacuna: faltavam documentários sobre mulheres. Emagreceu essa lacuna encomendando biografias de Natália Correia, Olga Roriz, Madalena Perdigão ou Cesina Bermudes. Mas sem esquecer os homens "que lutam pela igualdade de direitos". É o caso de Leão de Castro, que introduziu os livros de bolso no país.
Artes do palco
Assumindo que a maior parte da população do país não tem um equipamento cultural, a RTP2 oferece, todos os sábados, às 22 horas, um espetáculo de craveira mundial.
Confinamento
Preocupada em não acentuar o peso informativo da pandemia, a RTP2 tem optado por uma programação mais leve e familiar. Abre uma exceção amanhã, dia 20, para exibir "As febres do século", um documentário que antecipa o que poderá ser a recomposição da sociedade depois da covid-19.