Bailarino espanhol foi à Escola Secundária Santos Simões, em Guimarães, explicar a turmas de adolescentes a sua trajetória na história do flamenco.
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Quando Paris recebeu em 1913 a estreia de “A sagração da primavera”, de Igor Stravinsky, com música dissonante e uma coreografia disruptiva de Nijinsky, houve um escândalo. O público reagiu com insultos e tumulto ao que hoje é considerado um marco do modernismo.
A obra, numa versão com dois pianos e a percussão executada com o sapateado do mais inventivo dos flamencos Israel Galván, encerra hoje, às 21.30 horas, o festival GUIdance, em Guimarães.
No âmbito da “Embaixada dança”, o bailarino que soma o Prémio Nacional de Dança e a Medalha de Ouro de Bela Artes (Espanha), o Prémio Bessie (EUA), o National Dance Award for Exceptional Artistry (Reino Unido), e que é Cavaleiro de Artes e Letras em França, entre outros, foi ontem à Escola Secundária Santos Simões, em Guimarães, falar a alunos e professores.
“A minha história é que gostava de matemática e de futebol [mostra a camisola do Bétis], mas dançava todos os dias até às sete da manhã”, começou por contextualizar.
Licenciado em si mesmo
A licenciatura, detalhou o artista, foi em “procurar a minha própria linguagem - e durante muito tempo ganhei todos os concursos de flamenco, porque sabia o que tinha de dar ao júri para ser um 10/10, mas não queria isso”.
Quando lhe perguntaram com que idade tinha tido essa consciência, disse que “já com quatro anos fazia chamadas por buleria com um manguito”, provocando a gargalhada geral. Mais tarde, optou pela procura de sons em pisos de metal e pedra, para “manter a tradição com a contemporaneidade do mundo”. Aqui regressa a referência a Nijinsky e a fidelidade a si mesmo: “Dava-me vertigens porque os do flamenco diziam que eu não o era e os da dança diziam que eu era”.
Curiosos, os alunos perguntaram-lhe se era um escravo do ritmo, que Israel Galván disse ter em si: “Sou dois irmãos gémeos, um dançarino e um músico”. E como aguenta com 50 anos?, perguntou um professor. “Dançar é um processo mental”, mas, ainda assim, “vou ao ginásio todos os dias, mas sem ensaiar demasiado para não servir congelados” - e defende que “cada espetáculo é um momento que não volta”.

