Filmes de Espanha e Suíça sobre o mundo rural podem vencer a Berlinale, que entrega esta quarta-feira o Urso de Ouro
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Terminam esta quarta-feira os sete primeiros dias da 72ª edição da Berlinale, numa versão competitiva mais reduzida, que se estenderá é verdade até ao próximo domingo, mas apenas com repetições e sessões para o público berlinense.
É pois a hora de fazer um pequeno balanço. O melhor que se pode dizer dos filmes em competição é que raros foram os que nos fizeram lamentar o tempo perdido no seu visionamento, como costuma acontecer com frequência nas seleções oficiais dos grandes festivais, marcadas por compromissos de varia ordem.
Ora, Berlim 2022 será sempre recordado pela excelente qualidade média da competição e pelas possibilidades múltiplas que deve ter oferecido ao júri, liderado pelo realizador M. Night Shyamalan, de compor o seu palmarés.
Se também nos festivais de cinema, "prognósticos só no fim", não imaginamos uma lista de prémios - e porque não o próprio Urso de Ouro - sem a presença de dois filmes em que a ligação à terra tem uma importância fundamental na narrativa.
E se o português "Terra Que Marca", de Luis Domingues, o faz no Forum, é na competição que se encontram dois dos grandes filmes do festival, "Três Invernos" (tradução literal do dialeto em que é falado, ou "A Piece of Sky", escolhido como título internacional, e "Alcarrás".
O primeiro chega-nos da Suíça alemã, passa-se numa pequena localidade na montanha e relata a relação entre um jovem casal, marcada por um trágico acidente. O segundo passa-se na localidade catalã que dá o título ao filme e centra-se numa família que todos os verões se dedica à apanha de pêssegos nos seus terrenos, mas que se veem à beira do despejo e da substituição das suas árvores por painéis solares.
Se os dois filmes usam no seu elenco não atores ou atores amadores, o seu dispositivo é no entanto oposto, mas em ambos os casos de uma enorme eficácia. O suíço Michael Koch, muito influenciado pela fotografia e pela pintura, oferece-nos uma obra e tons de tragédia grega a que nem faltam um grupo coral a aparecer várias vezes na imagem, nos apontamentos musicais que funcionam como uma espécie de pasagem de um ato ao seguinte.
Pelo contrário, a espanhola Carla Simón, vencedora de vários prémios internacionais, entre os quais alguns aqui em Berlim, com o seu filme anterior, "Verão 1993", aposta num tom quase documental, nervoso, realista e sempre em movimento.
Para o final da competição ficaram reservados dois filmes que eventualmente também poderão ter lugar no palmarés, "Leonora Addio", de Paolo Taviani, hoje com 91 anos, dedicado ao seu irmão Vittorio, que já não está connosco e relacionado com a obra de Pirandello, que ocupa um lugar importante na sua filmografia, e "The Novelist"s Film", de Hong Sangsoo, no seu estilo minimal, assegurando escrita, produção, realização, fotografia, música e som e garantindo assim a presença em praticamente todas as edições de Cannes e Berlim.
Agora é só esperar pelo fim de tarde em Berlim, para se saber quem vai sair mais feliz de uma Berlinale marcada por fortes medidas de controle sanitário e por algumas ausências forçadas, como a de Isabelle Huppert, impedida por uma testagem positiva de se deslocar à capital germânica para receber o Urso de Ouro de carreira.