"A Última Refeição" é um texto de António Cabrita, com encenação de António Pires e voz, corpo e alma de Maria João Luís. Estreia no dia 4 de dezembro no Fórum Cultural do Seixal.
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Cozinha-se a derradeira refeição para Bert numa tentativa de o ressuscitar, para que não seja necessário um sacrifício maior por parte de Helena. Bert é Bertolt Brecht, porventura o maior dramaturgo alemão do século XX. Helena é Helene Weigel, a sua mulher, a sua viúva.
"A Última Refeição" é um texto de António Cabrita, com encenação de António Pires e voz, corpo e alma de Maria João Luís. Estreia no dia 4 de dezembro no Fórum Cultural do Seixal e oferece uma convergência entre a realidade e a ficção.
Aromatiza-se o palco com o frango na púcara com tempêros da Mãe Coragem, enquanto Helena coloca o público em "banho maria" com um solilóquio sobre a sua vida com Bert, conta as alegrias, os sonhos que partilhavam, as traições do pinga-amor. A fama de cozinheira é grande e espera-se que a refeição esteja à altura da reputação. Helena espera que o cozinhado ressuscite o marido morto. Pelo menos, até ser assaltada por uma confusão de sentimentos: o frango precisa de ir ao forno e o forno remete-a para as chamas do infermo que supõe que Bert esteja a enfrentar.
Enquanto o frango se faz, Helena relata como lhe foi anunciada a morte de Bert, pela figura da Morte disfarçada, e conta como esta lhe lançou um desafio: porque não encarnar a personagem da tragédia clássica grega escrita por Eurípides, a conhecida "Alceste", cuja qualidade humana assombrou os deuses, ao aceitar que a Morte a levasse no lugar do marido? Porque não seria Helena a próxima Alceste, já que o seu amor incondicional por Bert está à altura do desafio?
Assim que o frango fica pronto, Helena abre o tampo da banca, que é o caixão de Bert, destapa o prato para que o cheiro percorra o ambiente e tem uma última conversa com o marido. Discute uma determinada passagem de "A alma boa de Setsuan", de Bertolt Brecht, refelete sobre a nuance da Bondade e, por fim, fala sobre Alceste e a decisão que terá de tomar até à manhã seguinte.
Em dezembro, a peça vai passar pelos palcos da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão (9 a 11), Teatro Municipal de Bragança (15), Teatro das Beiras, na Covilhã (18). Prossegue em janeiro no Fórum Cultural do Seixal (20 a 22) e em fevereiro no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa (8 a 13).