Documentário da HBO reúne testemunhos de vítimas de violação de Richard Strauss, médico da Ohio State.
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Décadas de impunidade. Milhares de alunos abusados sexualmente por um médico sem que as suas queixas e desabafos fossem valorizados por aqueles que deviam protegê-los. “Ohio State: Uma História de Abusos”, documentário da HBO que estreou em junho, é um murro no estômago, um manual de más práticas da humanidade. Durante uma hora e 49 minutos, ex-atletas da Universidade de Ohio (OSU), em Columbus, nos EUA, relatam os abusos que sofreram às mãos do médico Richard Strauss.
Acabados de chegar ao mundo universitário, muitos deles de meios rurais, e desejosos de serem os melhores – um “Buckeye” (estudante) da OSU era um verdadeiro super-herói – os rapazes não gostavam dos “exames médicos” a que eram submetidos, mas tinham receio de perder a bolsa de estudo.
Strauss examinava-lhes o corpo todo, mandava-os apagar a luz e, com uma lanterna na boca, mexia-lhes no pénis, garantindo estar apenas a ser “minucioso”. “Se precisássemos de medicação, era sempre a ele que recorríamos. Se nos lesionássemos era a ele que recorríamos. E toda a santa vez havia um exame de corpo inteiro que culminava num exame genital, sem exceção. E o homem nunca usou luvas”, contou Dan Ritchie, da equipa de luta livre da OSU.
O mesmo acontecia com os atletas de ginástica, futebol, esgrima, natação e hóquei em patins. Sempre que tentaram denunciar Strauss, foram ignorados. “Não te preocupes com o médico, preocupa-te com o jogo”, disse o treinador de hóquei a um dos atletas.
Ao longo de décadas, só Charlotte Remenyik, treinadora de esgrima, teve a coragem de fazer sucessivas queixas à administração da universidade. Ainda assim, o resultado foi totalmente oposto ao pretendido. Richard Strauss não só não foi afastado como acabou promovido a médico principal do centro de saúde da OSU. Mais vítimas. Mais violações. Mais encobrimento. Saiu apenas quando quis.
“Ohio State: Uma História de Abusos”
Eva Orner
HBO