Paulo Moreira apresenta “Sleepwalker” na Galeria Serpente, no Porto, até ao próximo dia 12 de abril.
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Entre “os fragmentos do caos e a poética do inconsciente”, a nova exposição de Paulo Moreira (Luanda, 1968) é um fascinante labirinto de códigos, significados e conceitos dos quais o visitante só sai totalmente ileso se se encontrar num estado próximo do insone.
Da vontade vã da eternidade à evidência da morte de Deus, cada uma da dezena de telas expostas na Galeria Serpente representa uma tentativa de compreensão de um sentido que “jaz sob a superfície, velado pela tempo e pela repetição”, como escreve André Lemos Pinto, curador da exposição.
Através de traços que tanto remetem para o gesto intuitivo como para a construção meticulosa de paisagens, o que o artista plástico, fundador do coletivo de “spoken word” Sindicato do Credo, convoca em “Sleepwalker” é a reivindicação da dúvida como lugar fundador da humanidade. Contra os falsos vendedores de sonhos, profetas da graça caídos em desgraça e demais vendilhões do templo, Paulo Moreira constrói intrincadas cartografias visuais que buscam a sua essência na esfera íntima do indivíduo, reduto último de todas as esperanças.
Em trabalhos como “Samba pra boi dormir”, vemos como a ordem e o caos se sucedem, quase indistintos, enquanto a marcha de sonâmbulos “prossegue, indiferente, rumo ao nada”. A toada crítica atravessa ainda “Je suis entrain de momifier”, uma síntese das patéticas tentativas humanas de capturar o que é fugaz por natureza, ou o não menos contundente “I have slept in a graveyard”, repositório de todas as inquietações e precárias certezas, sintetizadas num título de uma outra obra presente na exposição: “The greatest ambition, become imortal, and then die” (“a grande ambição, tornar-se imortal, e depois morrer”).
Nas camadas sucessivas de figuras e palavras que acompanham cada trabalho encontramos também a sobreposição de tempos e narrativas com que o Homem vai entretecendo o seu destino, numa espécie de fuga acelerada de si mesmo.