O município de Vila Nova de Gaia acolhe uma importante exposição da surrealista portuguesa.
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Isabel Meyrelles (PT, 1929), natural de Matosinhos, é caso raro de criação no feminino no contexto do surrealista português. Artista plástica, poeta, tradutora cedo privou com outros protagonistas do movimento, em particular com Mário Cesariny (PT, 1923-2006), António Pedro (CV, 1909-1966) ou Cruzeiro Seixas (PT, 1920-2020), sendo evidente a influência deste último na sua produção, nomeadamente, no campo da escultura. O Portugal do Estado Novo nunca lhe teria permitido ser mulher, artista e livre e, não obstante ter passado pelas Escolas de Belas Artes do Porto e Lisboa, em 1950 fixa-se em Paris, estudando Literatura e Belas Artes na Sorbonne. Na cidade-luz, rodeada do espírito de Liberdade e esperança do pós-II Guerra Mundial, estabelecerá importantes amizades com o poeta e precursor do dadaísmo Tristan Tzara (ROU, 1896-1963) ou com o escritor Henri Michaux (BE, 1899-1984). Será depois da chegada a Paris, em 1951, que publicará o seu primeiro livro, intitulado “Em voz baixa”, que empresta o nome à exposição que agora se apresenta no Espaço Corpus Christi, em Vila Nova de Gaia, com curadoria de Marlene Oliveira, também diretora artística da Fundação Cupertino de Miranda.
No total, são 40 obras da artista que se distribuem pelos vários espaços do outrora convento, fundado originalmente em 1345 por religiosas dominicanas, residindo nesta coabitação, entre os vários tempos da arquitetura religiosa do monumento e a liberdade surrealista, um dos interesses desta exposição que valoriza a produção artística de Isabel Meyrelles e a sua originalidade no contexto do surrealismo nacional e internacional.