"Moonlight" vence Oscar de Melhor Filme, após "La la land" ser anunciado por engano
E eis que o impensável aconteceu na 89.ª cerimónia dos Oscars: "La la land: Melodia do amor" foi anunciado vencedor do Oscar de Melhor Filme, mas o verdadeiro galardoado foi "Moonlight". Um equívoco que deixou todos estupefactos.
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Numa cerimónia planeada com todo o rigor e que decorria sem mácula, um engano na entrega do cartão onde estava inscrito o nome do vencedor de Melhor Filme levou a que Warren Beatty e Faye Dunaway anunciassem "La la land: Melodia do amor" como vencedor do Oscar. A equipa do filme subiu ao palco e ainda fez alguns agradecimentos, até que Jordan Horowitz, produtor de "La La Land", denunciou o erro.
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Um momento que fica na história desta edição dos Oscars, atravessada por recados políticos para Donald Trump - uns mais subtis, outros mais diretos - e pelo bom humor e espontaneidade do seu anfitrião, Jimmy Kimmel.
Nomeado em 14 categoria, "La la land: Melodia do amor" foi o filme que mais amealhou, levando para casa seis estatuetas douradas: Melhor Realização, Melhor Atriz, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Banda Sonora Original e Melhor Canção. Aos 32 anos, Damien Chazelle tornou-se o cineasta mais jovem a vencer o Oscar de Melhor Realização, depois de ter dominado a temporada de prémios que antecede a atribuição dos galardões da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Emma Stone também confirmou todas as expectativas ao erguer o Oscar de Melhor Atriz, deixando para trás nomes de peso como Meryl Streep, Isabelle Huppert ou Natalie Portman. "A maior honra é estar entre vocês", assegurou, ao receber a sua primeira estatueta dourada. Entre os agradecimentos, dirigiu-se a Ryan Gosling, o seu par romântico no musical de Chazelle, que viu o Oscar de Melhor Ator fugir-lhe das mãos e ser entregue a Casey Affleck, pelo papel em "Manchester by the sea".
Casey Affleck já havia vencido o Globo de Ouro na categoria de Drama e o Bafta, mas o favoritismo nesta categoria parecia recair sobre Gosling ou Denzel Washington. No momento da consagração, o ator agradeceu ao realizador e argumentista Kenneth Lonergan e a Matt Damon, que produziu o filme e só não o interpretou por incompatibilidades de agenda. "Manchester by the sea" conquistou ainda o Oscar de Melhor Argumento Original.
"Moonlight", que viria a obter o troféu mais desejado da noite, valeu a primeira nomeação e o primeiro Oscar a Mahershala Ali, de 43 anos, na categoria de Melhor Ator Secundário. Mahershala Ali, que no filme interpreta um traficante de droga, fez um discurso emocionado, em que agradeceu "aos professores" que sempre lhe ensinaram que "isto não é sobre nós, mas sobre as personagens e histórias que estamos a servir." O ator de "Moonlight", que foi pai pela primeira vez há quatro dias, agradeceu à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, à mulher e ao realizador Barry Jenkins. Jenkins que conquistou também a estatueta de Melhor Argumento Adaptado.
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Vencedor de três das oito estatuetas para que estava nomeado, o filme que conta a história de um rapaz negro e homossexual, que cresce numa família desestruturada e num ambiente de discriminação e violência, é o retrato de uma América que Trump parece querer esquecer. Era o vencedor improvável, mas triunfou.
Ao receber os galardões, Barry Jenkins dirigiu-se a todos os que se sentem desprotegidos, dizendo que a Academia e a União Americana pelas Liberdades estão com eles: "Nos próximos quatro anos, não vos deixaremos sozinhos, não vos esqueceremos".
Viola Davis, nomeada pela terceira vez, conquistou o galardão de Melhor Atriz Secundária pelo papel que desempenha em "Vedações", uma adaptação ao cinema da peça do dramaturgo August Wilson, realizada por Denzel Washington. Ambos já tinham interpretado esta peça no teatro e vencido prémios pelas respetivas interpretações. Visivelmente emocionada, a atriz de 51 anos foi ovacionada de pé e agradeceu a August Wilson por ter escrito um texto sobre "pessoas comuns." "É um filme sobre pessoas, palavras, a vida, o perdão", resumiu.
O recado mais duro para Donald Trump ecoou no Dolby Theater quando o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro foi entregue ao iraniano Asghar Farhadi, por "O vendedor". Ausente da cerimónia, o realizador enviou uma mensagem que foi lida em palco, em que justificava a sua ausência como uma forma de respeito para com os seus compatriotas e para com os cidadãos dos outros seis países a quem Donald Trump quer vedar a entrada nos Estados Unidos. "Dividir o mundo entre nós e os nossos inimigos cria medo, uma justificação enganosa para a agressão e guerra", disse o realizador em comunicado.
Ao conquistar o segundo Oscar na mesma categoria, Asghar Farhadi fez ainda questão de destacar o poder que os realizadores têm, pois podem "usar as suas câmaras para capturar qualidades humanas e quebrar estereótipos sobre nacionalidades e religiões", "criando empatia entre nós e os outros".
Antes de apresentar os nomeados na categoria de Melhor Filme de Animação, cujo Oscar foi entregue a "Zootrópolis", o ator mexicano Gael Garcia Bernal também aproveitou a oportunidade para deixar a sua mensagem ao presidente norte-americano, ao afirmar ser "contra qualquer tipo de muro".
A guerra na Síria também esteve debaixo dos holofotes quando "Os capacetes brancos", sobre voluntários que ajudam vítimas da guerra, venceu o Oscar na categoria de Melhor Curta-metragem documental. O realizador britânico Orlando von Einsiedel foi também ovacionado quando apelou ao fim da guerra no país.
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Katherine Johnson - a matemática e cientista espacial que trabalhou na NASA e inspirou a personagem interpretada por Taraji P. Henson em "Elementos secretos" - foi recebida com uma ovação de pé quando subiu ao palco com as três protagonistas do filme, que apresentaram o Oscar para Melhor Documentário, entregue a "O.J.: Made in America".
A noite mais longa de Hollywood começou com a atuação de Justin Timberlake, nomeado na categoria de Melhor Canção com "Can't Stop The Feeling", que marcaria o tom divertido de toda a cerimónia. O comediante Jimmy Kimmel revelou-se um anfitrião com humor e espontaneidade suficientes para contagiar a plateia, e com uma dose de criatividade que fez com que "chovessem" sacos de doces dentro do Dolby Theatre ou com que um grupo de turistas que fazia uma excursão por Hollywood acabasse por entrar no meio da cerimónia.
As farpas a Donald Trump foram sendo atiradas ao longo da gala, com muita ironia e sem excesso de militância. "Esta cerimónia está a ser vista em 225 países que agora nos odeiam", começou por dizer, antes de aproveitar palavras proferidas pelo próprio presidente para o criticar.
Mais tarde, estranhou mesmo a ausência de "feedback" presidencial e entrou em ação: "Já passaram mais de duas horas de espetáculo e Donald Trump ainda não tweetou nada, estou a começar a ficar preocupado". Em direto, e com a imagem do ecrã do telemóvel projetada no palco, mandou um Tweet ao presidente: "Hey Donald Trump, o que é que se passa?"
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