Há 40 anos que é uma das grandes figuras do rock. Alice Cooper, 68 anos, está em Portugal para o concerto único dos Hollywood Vampires, a banda que formou com o ator Johnny Depp para "homenagear os amigos bêbados que já morreram", disse em entrevista ao JN. Atuam esta sexta-feira no Rock in Rio Lisboa.
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Jornal de Notícias - O nome da banda Hollywood Vampires evoca o famoso "drinking club" que você abriu em Los Angeles nos anos 70. Qual é a sua memória dessas noites?
Alice Cooper - Bem, era o nosso ponto de encontro. O Keith Moon [dos The Who] era absolutamente doido, mas mesmo muito maluco. Ele foi o maior baterista de todos os tempos mas estava sempre a passar-se da cabeça. O Harry Nilson aparecia sempre com o John Lennon e eram muito engraçados porque passavam as noites inteiras a discutir sobre política. Então ficava toda a gente a beber por lá até o último cair para o lado. O Keith Moon tinha a mania de aparecer vestido como o Papa ou como a rainha de Inglaterra ou talvez até como o Hitler ou o Jack o Estripador. O engraçado é que se olhássemos à volta naquela sala víamos que toda aquela gente já tinha feito pelo menos um disco que tinha chegado ao primeiro lugar no top. Era o nosso sítio para curtir e beber muito.
Pela sua experiência, que conselho dá sobre a melhor maneira de curar a ressaca?
Bem, no meu caso devo dizer que nunca tive uma ressaca. Durante todos aqueles anos em que bebi muito, nunca cheguei a sentir uma ressaca porque para um tipo ressacar tem de estar sóbrio. E eu fiz a escolha de nunca estar sóbrio. Acordava de manhã e começava logo a beber uma cerveja. Mas também nunca ficava demasiado bêbado. Nunca andei por aí a cambalear, a cair, sem conseguir falar ou todo apagado. Nunca bebi dessa maneira. Eu bebia muito mas sempre moderadamente.
Qual é hoje a sua bebida preferida?
Agora só bebo bebidas dietéticas ou água. Continuo a gostar muito de café. Mas já não bebo álcool, nada mesmo. Nem sequer cerveja ou vinho.
Pode desvendar um pouco como será o vosso concerto no Rock in Rio?
Bem, vamos fazer "covers" de todos os nossos amigos bêbados mortos, desde o John Lennon aos T. Rex [de Marc Bolan], Jim Morrison, Jimi Hendrix, enfim, todos os tipos que conheci. Tanto o Joe Perry [dos Aerosmith] como o Johnny [Depp] são grandes guitarristas. Também vamos tocar coisas que não estão no nosso álbum, desde canções minhas, outras dos Aerosmith e talvez até dos Stone Temple Pilots porque estamos a homenagear amigos que morreram e o Scott Weiland era amigo nosso. Devemos tocar ainda alguma coisa do Bowie e dos Motorhead. Todos foram músicos amigos mas que acabaram por morrer.
Como reagiu o Johnny Depp quando o desafiou para formar a banda?
Quando o chamei e lhe pedi para tocar um bocado ele disse logo que já tinha sido guitarrista antes de se tornar ator. Assim que o vi a tocar fiquei completamente convencido. E, na verdade, o Joe Perry até lhe pede lições de guitarra. O Johnny é mesmo um bom guitarrista, o Joe Perry às vezes pergunta-lhe "Espera aí, como é que fizeste isso? Diz-me como se faz".
E como foi ter o Paul McCartney em estúdio?
Esse foi um dos melhores momentos da minha vida. Eu já conhecia os Beatles, todos eles, há mais de 35 anos. Só que estar no estúdio com aquele que é "O Beatle" é uma coisa completamente diferente. Quando ele apareceu, nós no estúdio parecíamos crianças porque o Paul McCartney é aquele tipo que já fez tudo - e fez melhor do que toda a gente. Então ficámos ali a olhar para ele e a dizer: "O que é que te apetece fazer? Nós fazemos o que quiseres, és tu a mandar" [risos].
Que opinião tem sobre a caracterização que fizeram de si na série de TV "Vynil" produzida pelo Martin Scorsese e pelo Mick Jagger?
[risos] Foi muito interessante. O Scorsese e o Mick Jagger mandaram-me o guião e disseram que aquilo era ficção, mas que iam usar pessoas verdadeiras que viveram naquela altura. Sabia que havia atores a representar o Alice Cooper, o David Bowie, o Andy Warhol ou os New York Dolls mas que era tudo ficção. Se calhar o pormenor mais próximo da realidade na série até deve ser o facto de as pessoas das editoras discográficas andarem todas movidas a cocaína e dinheiro. O engraçado é que as bandas até nem tinham muito conhecimento disso. Nós íamos para o estúdio, para as digressões ou para as nossas vidas e não sabíamos bem como era o ambiente nos escritórios das editoras.
O que é que o Alice Cooper gosta de fazer quando não está a tocar ou a ensaiar?
Olha, eu estou bastante contente por ir agora a Portugal porque eu adoro jogar golfe e até vou levar os meus tacos. E sei bem que Portugal é a capital do golfe na Europa. Ainda não consegui convencer o Johnny Depp a jogar comigo, mas vou tentar quando estiver aí no vosso país.