“Alba”, uma encenação de Nuno M Cardoso com elenco exclusivamente feminino, adapta a obra de Federico García Lorca. Esta sexta-feira à noite há a última récita no Teatro S. João, no Porto.
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Ainda antes de encerrarem as temporadas teatrais em sala, e de se abrir o enorme deserto que que é agosto para os amantes das artes performativas, o Teatro Nacional São João, no Porto, recebe as escolas artísticas da cidade.
Nesta montra do porvir da arte do fingimento, esta sexta-feira a cena é das alunas finalistas da licenciatura de arte dramática da Universidade Lusófona, com uma encenação de Nuno M Cardoso. Com um elenco exclusivamente feminino, o encenador pegou no clássico “A casa de Bernarda Alba”, de Federico García Lorca, para lhe dar uma nova leitura contemporânea.
Depois de no ano passado ter encenado, para este mesmo elenco, “Top girls”, de Caryl Churchill, Nuno M resolveu agora partir para este texto lorquiano, no qual diz encontrar pontes entre ambos.
“A repressão da liberdade das mulheres continua lamentavelmente atual. Nos antípodas da assertividade feminista e do humor crítico e corrosivo de Churchill, Lorca oferece-nos uma tragédia política de beleza poética, onde a tradição, o preconceito, a ignorância, o convencionalismo e a prepotência aprisionam um grupo de mulheres num luto fechado em quatro paredes”, escreve Nuno M Cardoso sobre a produção teatral.
“A casa de Bernarda Alba”, última peça escrita por Lorca, antes do seu assassinato a 19 de agosto de 1936, às mãos dos nacionalistas, faz um relato de uma Granada, a sua terra natal, muito cru.
Uma mãe viúva, Bernarda Alba, mantém as suas cinco filhas: Angústias, Madalena, Martírio, Amélia e Adela, debaixo de um pesado luto, tudo em prol de uma compostura social que lhe permita manter as aparências e, sobretudo, que não destape nunca a sua vulnerabilidade.
Como descreve Poncia, empregada da matriarca, “tirana de todos os que a rodeiam, é capaz de sentar-se em cima do teu coração e ver como morres durante um ano, sem que se feche esse sorriso frio que leva na maldita cara”. Adela, a filha mais nova, vai desafiar todos os poderes e convenções instituídos e, por isso mesmo, irá pagar demasiado caro.
Esta sexta-feira, às 21 horas, é a última récita. Os bilhetes custam cinco euros.