Para ver até 24 de novembro, a bienal mais antiga do mundo apresenta-se com a edição mais disruptiva da sua história.
Corpo do artigo
O que é ser estrangeiro? Como ser parte de um lugar que, apesar de não nos ser berço, queremos que seja casa? Considerando que a História é, desde sempre, feita de migrações, da viagem e dos encontros de culturas que daí derivam, porquê que continuamos, em pleno século XXI, a estar tão convictos de identidades cristalizadas por regimes, conservadorismos e faltas de informação? Porquê que o nosso conforto interior depende tanto de normas e tão pouco do respeito pela natureza de cada um? Não seremos nós, ocidentais, demasiado fechados sobre a nossa própria visão do mundo? Não será este nosso paternalismo em relação ao resto do mundo uma manutenção de um pensamento colonial que nos ficou de forma endémica?
São estas e outras perguntas que o curador brasileiro Adriano Pedrosa (n.1965) coloca na sua proposta para a edição 60 da Bienal de Veneza, patente até 24 de novembro de 2024. Adriano Pedrosa é o primeiro sul-americano a dirigir a bienal mais antiga e relevante do mundo e, partindo do tema “Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere” (Estrangeiros em todo o lugar) muda o ponteiro e dá destaque a um conjunto alargado de artistas e coletivos do dito Sul Global e, muito em particular, sul-americanos e indígenas, muitos deles não integrados no sistema da arte contemporânea vigente e até conotados com o artesanato e com uma expressão que poderíamos considerar como naïf.