Seis anos depois de "Pão de açúcar", Afonso Reis Cabral regressa com "O último avô", história de uma família ao longo de três gerações, ensombrada pelas memórias da guerra e por um avô-escritor impiedoso
Corpo do artigo
Com uma história que urde segredos familiares e mistificações literárias, ensombradas pelas memórias da guerra colonial, "O último avô" assinala o retorno à ficção de Afonso Reis Cabral. Aos 35 anos, o autor de "O meu irmão" e "Pão de açúcar" acredita ter escrito o seu romance "mais complexo". "Houve momentos em que me senti bastante enrascado", confessa.
Na imagem da capa de "O último avô", vemos uma caneta da qual irrompe uma chama, o que tanto pode aludir ao caráter de iluminação da escrita como ao caráter incendiário da mesma. Qual destas é a que se ajusta mais à sua conceção das coisas?
A escrita ilumina e incendeia ao mesmo tempo. A imagem da capa tem mais que ver com a ideia de memória do que com a escrita, ou seja, a ideia de que a memória é uma forma de ficção. O livro parte da premissa de que a memória tem um espaço tremendo para a ficção. Se levasse esta ideia até às últimas consequências, o que aconteceria? Nasce daí a ideia do avô-escritor. Tanto o avô como o neto estão contaminados com a ficção, com várias formas de mentira, umas mais aliciantes do que outras. Essas formas de mentira, no caso das relações familiares são dramáticas, no caso das literatura podem ser belíssimas.