A vasta produção de Agustina Bessa-Luís para jornais e revistas acaba de ser reunida no livro "Ensaios e artigos", coordenado pela neta da escritora, Lourença Baldaque.
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Agustina Bessa-Luís não se limitou a escrever quase uma centena de obras em géneros como o romance, a novela, a biografia, o teatro ou a crónica.
Entre 1951, três escassos anos depois da estreia literária com "O mundo fechado", e 2007 - meses antes de sofrer um acidente vascular cerebral que a afastou em definitivo dos livros -, a autora de "O princípio da incerteza" escreveu para a Imprensa praticamente sem interrupções.
Uma tarefa laboriosa que conciliou com a literatura e o desempenho de vários cargos públicos, como a direção do Teatro Nacional São João.
É esse milhar de artigos, entre os quais sete crónicas que publicou no "Jornal de Notícias" há pouco mais de uma década, que integra o volume "Ensaios e artigos", apresentado nesta sexta-feira ao início da noite na Biblioteca de Serralves, no Porto.
A recolha e catalogação de todos esses escritos esteve a cargo de Lourença Baldaque, neta da escritora, que confessou não esperar "uma missão tão intrincada" quando se propôs desenvolver o trabalho ao longo de dois anos, obrigando-a a remexer até à exaustão nos arquivos de jornais e nas bibliotecas.
Nesta reconstituição do percurso jornalístico de Agustina Bessa--Luís, diretora do extinto matutino "O Primeiro de Janeiro" em meados dos anos 80, Lourença Baldaque afirma ter encontrado uma "observadora crítica" que sempre evidenciou "profunda tenacidade e firmeza".
Convicta de que os escritos agora reunidos mostram "uma aproximação entre a Agustina privada e a pública", a organizadora da obra, dividida em três volumes devido à sua dimensão (perto de três mil páginas), acredita que esta faceta jornalística "permite conhecê-la melhor".
Uma opinião corroborada pelo jornalista José António Saraiva, autor do prefácio desta edição, da responsabilidade da Fundação Calouste Gulbenkian. "Sem este livro, um notável acontecimento literário, muitos destes textos perder--se-iam para sempre", assinalou Saraiva ontem, durante a sua intervenção.
Para o administrador da Newshold, Agustina distinguia-se dos outros escritores da sua geração que também escreveram em jornais, como José Saramago e Cardoso Pires, pelo "estilo fluido e espontâneo". "Usava as opiniões para escrever", concluiu.