Estreia esta quinta o novo filme de Walter Salles, que valeu um Globo de Ouro a Fernanda Torres.
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O cinema brasileiro tem uma tradição de qualidade e de resistência, tendo sobrevivido a dois terríveis ataques, que colocaram em causa a sua própria existência, o fim da Embrafilme, entidade que apoiava financeiramente o cinema brasileiro, e o bolsonarismo, que disparava em todas as direções quando ouvia falar de Cultura.
Walter Salles foi um das grandes figuras do ressurgimento do cinema brasileiro, na década de 1990, sobretudo quando assinou um filme que viajou por todo o mundo, “Central do Brasil”, protagonizado por uma das grandes lendas vivas do cinema local, Fernanda Montenegro.
A atriz volta para o novo filme de Salles, “Ainda Estou Aqui”, mas agora a protagonista é a sua filha, Fernanda Torres. E se ela própria já tinha um estatuto de grande atriz, tal posição fica agora realçada com a conquista do Globo de Ouro, na categoria de Filme/Drama, abrindo-lhe as portas para uma possível nomeação para os Óscares.
O drama em causa, pano de fundo de “Ainda Estou Aqui”, é um dos momentos mais negros da história brasileira do século XX, a ditadura militar que governou o país durante vinte anos, entre as décadas de 1960 e 1980.
No caso, o filme adapta o livro autobiográfico de Rubens Paiva, um antigo deputado federal, e inicia-se no Rio de Janeiro, em 1971, mas centra-se sobretudo na sua esposa, Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, que se torna ativista política após a prisão, e subsequente desaparecimento do marido.
A personagem, interpretada nesse período por Fernanda Torres, reaparece brevemente duas décadas mais tarde, encarnada por Fernanda Montenegro. Um sonho para qualquer cinéfilo iniciado no cinema brasileiro, tornado realidade por Walter Salles.
O filme, que iniciou o seu percurso no Festival de Veneza, chega na quinta a todo o país, e aponta de igual modo às emoções e à inteligência do espetador, na forma como se fala do passado traumático de um país.