“Anagramas improváveis” e “C.A.S.A.”, as duas exposições inaugurais do espaço projetado pelo arquiteto, abrem ao público em Serralves neste sábado.
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As paredes da Ala Álvaro Siza já não estão despidas. Aberto ao público desde outubro, o espaço, que veio aumentar em 45% a zona expositiva do Museu de Serralves, acolhe a partir de amanhã duas exposições inaugurais: “Anagramas improváveis” e “C.A.S.A. – Coleção Álvaro Siza, Arquivo”, dois projetos que permitiram à numerosa equipa curatorial “o desafio da descoberta”, nas palavras do diretor artístico do museu, Philippe Vergne.
“Foi como se estivéssemos a pisar cascas de ovo”, admitiu aos jornalistas, sem se furtar à responsabilidade de acrescentar “mais uma camada” a um espaço já de si multidisciplinar. “Quando colocamos uma obra de arte num edifício, o espaço já começa a mudar”, reforçou Vergne.
Ao seu lado, Álvaro Siza confessou a “ansiedade” inicial com que encarou o desafio. Habituado a esperar “15 ou 20 anos” pela concretização das obras, o celebrado arquiteto estranhou a rapidez (três anos apenas) com que foi executado. Mas a satisfação maior prendeu-se mesmo com o facto de “não ter molestado o parque e as árvores, que quase fizeram o favor de desenhar o projeto”.
Constituída em exclusivo por obras da coleção de Serralves, “Anagramas improváveis” é uma exposição que, como o próprio nome sugere, assenta em diálogos artísticos pouco óbvios.
Mais do que uma viagem cronológica pela arte contemporânea a partir do milhar de obras à guarda do museu portuense, os curadores quiseram explorar associações entre artistas muito distintos entre si. Sempre emoldurados pela obra de arte que já é o espaço projetado pelo Pritzker, os trabalhos permitem um confronto que assenta na cumplicidade.
É o que acontece na sala onde se encontram obras de Ângelo de Sousa ou Ana Jotta, marcada pelo frágil equilíbrio, mas talvez mais ainda num dos espaços contíguos a este. Os sete quadros de Paula Rego da série “Aborto” estão localizados numa sala que vai desembocar numa instalação de Julião Sarmento onde os direitos das mulheres são também reclamados.
À medida que o visitante avança pelas agora preenchidas salas – luminosas, apesar de dispensarem quase em absoluto as janelas –, outros diálogos se sucedem. Como o que coloca frente a frente o fotógrafo português Paulo Nozolino e o videoartista polaco Miroslav Balka. Em ambos, a opressão e o negrume são dominantes.
Bem mais próxima do roteiro afetivo do arquiteto matosinhense é a segunda mostra que agora pode ser visitada. Acrónimo de Coleção Álvaro Siza, Arquivo, a C.A.S.A. traz-nos uma revisitação sumária do seu longo percurso, através de esquissos e maquetas.
Com uma extensão de um quilómetro, caso fossem dispostos em fila, os trabalhos disponibilizados ao público não são uma simples aula de arquitetura. Até porque, como relembra António Choupina, curador da exposição, “com Álvaro Siza nunca se trata apenas de arquitetura”.
Por entre obras míticas, o visitante depara-se ainda com projetos que nunca saíram do papel. Uma constante, lamenta o arquiteto, que diz ver a maioria dos seus trabalhos “repousarem nas gavetas autárquicas”. “Ainda ontem, soube que tive mais um projeto renovado”, partilhou.