O Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) encheu para o primeiro espetáculo do festival vimaranense. Esta sexta-feira o palco é da dupla portuguesa Sara Serpa (voz) e André Matos (guitarra), acompanhados por Jeff Ballard (bateria) e Craig Taborn (piano).
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O primeiro concerto da 33.ª edição do Guimarães Jazz, na noite desta quinta-feira, pode não ter sido aquilo que os “puristas” esperavam da apresentação de um trompetista. Ambrose Akinmusire rompe os estereótipos e as convenções do género para produzir música inegavelmente boa, com ressonâncias clássicas, quando se evidencia o Quarteto de Cordas Mivo, e que entra no terreno do hip-hop, quando Kokayi quebra o silêncio para lançar os seus manifestos ao microfone.
Na fila à saída, alguém comentava: “Isto não foi jazz, foi muito rap”. Quem ia ao lado interpelou: “Mas, gostaste ou não?” E a resposta foi um positivo abanar de cabeça. Ivo Martins, programador do Guimarães Jazz, não está “nem aí” para essa questão da pureza. “Aquilo que acabámos de ver naquele palco é musicalmente extraordinário”, apontou, já no Café Concerto do CCVF, ao som dos primeiros acordes do “jazz after midnight”, animado pelo Quinteto Tommaso Perazzo.
Guimarães teve oportunidade de ouvir, em estreia na Europa, o último trabalho do trompetista e compositor de Oakland, “Honey from a Winter’s Stone”. Neste espetáculo, o virtuoso trompetista funde-se de tal forma com o resto da banda, principalmente com a voz de Kokayi, que por vezes é como se não estivesse lá, mas está e isso faz diferença. “Nós somos mesmo uma banda. Passamos tempo juntos (“hang out”) e isso faz toda a diferença quando estamos em palco”, confidenciou Ambrose ao JN, já a caminho da jam session, onde a banda fez questão de marcar presença.
“I gess we got no democracy”, cantado e gesticulado por Kokayi, em jeito de discurso de comício, ganha um forte significado no momento político da América. É inegável que este concerto, em que o trompetista surgiu acompanhado por Sam Harris (piano), Chiquita Magic (teclas, drones e voz de fundo) e o Quarteto de Cordas Mivos (Olivia de Prado, Maya Bernardo, Victor Lowrie Tafoya e Nathan Watts), assentou muito na voz e na atitude de Kokayi. Todavia, foi o trompete de Ambrose que dissolveu as ideias que o vocalista atirou ao ar e as transformou num sentimento que amplificou ao limite do êxtase.
Hoje acontece o primeiro concerto com nomes nacionais
Esta sexta-feira, o palco é de Sara Serpa (voz) e André Matos (guitarra), um casal português que tem trabalhado na cena nova-iorquina. Sara Serpa usa criativamente a voz como instrumento, oscilando entre o lirismo melódico e a vocalização livre. André Matos é um guitarrista expansivo que recorre a técnicas convencionais de guitarra e a efeitos de manipulação eletrónica. Hoje, às 21 horas e trinta minutos no CCVF, a dupla surge acompanhada por Jeff Ballard, um baterista com quem habitualmente trabalham, e por Craig Taborn, importante pianista do jazz contemporâneo.
O Guimarães Jazz prolonga-se até ao dia 16, com jam sessions depois dos concertos, durante a primeira semana, no Café Concerto do CCVF e, na segunda, no bar da Associação Convívio, co-organizadora do festival com a cooperativa A Oficina. Os bilhetes variam entre 10 e 15 euros, com desconto para quem comprar para mais do que um espetáculo, e dão acesso às jam sessions.