Ana Bacalhau lança “Mundo antena”, um tributo à rádio. Nuno Markl e Joana Marques entre os convidados.
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É como um programa radiofónico em disco, feito por quem cresceu a ouvir rádio – e por quem sonha o mundo como que unido por uma antena metafórica. Ao terceiro disco a solo, Ana Bacalhau traz um novo conceito, com tanto de retro como de inovador.
Ao JN, a artista fala do novo “Mundo antena”, trabalho com 19 faixas, que convida o público a fazer parte de uma emissão de rádio, com participações de Nuno Markl, Fernando Alvim, Joana Marques, Inês Meneses e António Macedo. O lançamento, em meados deste mês, veio seguido de um novo podcast e antecipa espetáculos especiais, em breve.
“A ideia veio primeiro pela canção que deu nome ao álbum, ‘Mundo antena’. Que já estava composta, para um disco infantil que não chegou a acontecer, e era uma canção do lado de uma criança – mas com outro mais adulto, na frase do ‘eu moldo o mundo, o mundo não me molda a mim’”, começa por contar. “Olhei para o título ‘Mundo Antena’ e comecei a construir a ideia dessa ligação a um mundo comunitário que apelava mais aos ouvidos do que aos olhos, ao contrário de hoje... ”, adianta.
As primeiras memórias
O tema-titulo do disco diz muito, na sua história, do conceito, reitera: “Nele, a criança constrói um globo, um trabalho de casa com plasticina, mas é diferente do nosso globo terrestre. E é gozada pelos colegas e a professora não gosta, por ser diferente. Só que encontra no recreio um amigo que tem uma antena que capta as emissões daquele globo. E isto fez-me pensar neste conceito de disco, de rádio. Era esse o meu desejo, que nos conectássemos uns aos outros de forma ativa e positiva. E, então, criei esta emissão, um alinhamento com as canções e com vozes que são queridos amigos meus, vozes históricas em Portugal, para dar essa sensação de união pela rádio, que também tive em miúda”.
Para Ana Bacalhau, a rádio foi marcante. “As minhas primeiras memórias de infância são o meu pai a arranjar-se para sair e trabalhar, ao som da rádio. Ele a arranjar-se e eu ouvia ao fundo as vozes e as músicas que ele ia cantando. E depois nas viagens de carro. Foi através da rádio que fui ouvindo as músicas de que gostava, e fui conhecendo tantas músicas. Nem foi a televisão, mesmo depois; sempre foi a rádio”, explica, fazendo o paralelismo com o tempo atual, em que há “um mundo quase a la carte, onde as pessoas escolhem o que querem ouvir e ver. É ótimo, temos liberdade de escolha, tudo bem, mas é um pouco uma bolha, vivemos naquilo que queremos ouvir e que confirma o nosso mundo. Não há o confronto com algo que não pedimos”, refere a artista.
Entre os convidados do disco estão figuras radiofónicas que simulam lançamentos e rubricas de locutores – e até a guitarrista que acompanha Ana, Eugénia Contente, com a meteorologia.
Há também um jingle “Rádio Bacalhau” e, entre os singles, uma colaboração com Cláudia Pascoal, “Imperial & fino”, onde se fala de pronúncias e linguagens, e volta um tema recorrente na artista, a portugalidade. “Cada um tem a sua definição do que é ser português. E interessa-me muito trabalhar isso, porque a minha definição é necessariamente diferente dos outros. É uma questão da beleza, da riqueza e diversidade”, conclui.