Ana Bacalhau revela “Fósforo”, single escrito por Jorge Cruz que vai fazer parte do próximo álbum da artista.
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Dos Deolinda a artista a solo, Ana Bacalhau tem arrebatado corações com as suas canções emocionais, envolvidas em sonoridades enérgicas. No seu mais recente single, “Fósforo”, single lançado no início do mês da autoria de Jorge Cruz, a artusta evica um ambiente mais pesado, intenso, em comparação com os anteriores.
“A letra em si é muito forte e a melodia é maravilhosa. Por isso, o o meu trabalho era tentar não estragar essa intensidade”, confessa Ana Bacalhau ao JN.
Ao comparar uma relação com o arder de um fósforo, a cantora espera passar a mensagem que “nem todos os fins são maus”. Para o demonstrar, Jorge Cruz carregou a escrita de ideais e conceitos que agarram os ouvintes, despertando a chama que é o amor.
“É algo de que o Miguel Araújo fala muito. Quanto mais específicas as referências nas letras forem, mais forte é a relação que as pessoas têm com a letra, ou seja, se numa letra quisermos falar de uma árvore, não se pode escrever só a palavra árvore, troca-se por um sabugueiro, um carvalho”.
Em si, ouvir “Fósforo” é entrar numa viagem, carregada de referências, de avisos, preocupações, esperanças e lembranças. No videoclipe, realizado por Rita Seixas, a simbologia começa cedo, pela simplicidade em transformar Ana Bacalhau no próprio fósforo ao decorrer da canção, pelo vestido e cor de lábios, projeção e intensidade.
“O fim é a personagem principal, mas o que está de facto a ser contado são todas as cores do antes e que fizeram esse amor valer a pena”.
É clara a melodia fluida, igualada a um texto que facilmente aproxima pessoas, principalmente aquelas que reconhecem de imediato a mensagem, o pedido de Ana Bacalhau para se viver no presente, “entregando-nos completamente”. “Só quando eles passam é que lamentamos não termos estado tão presentes”.
Da memória de um amor verdadeiro e saudável, mesmo que desvanecido, permanece sempre a essência. O fim de um amor físico não impede a imortalidade do amor que se viveu no passado.
“Não só o que vivemos durante a relação, mas depois também como vivemos o fim, a forma como encaixamos o fim, como crescemos depois desse fim e como recomeçamos mais fortes”.
À autodescoberta: passado
Desde a pausa indeterminada de Deolinda, Ana Bacalhau partiu numa aventura de autodescoberta. O primeiro disco, “Nome próprio”, não corresponde para a autora à sua estreia a solo, criando-o "por graça”. Já o segundo carregou outro peso, de procura, de experiência.
Ana Bacalhau confessa ao JN que em 2017 não esperava começar repentinamente uma carreira a solo, contudo, após um período de adaptação, a cantora acabou por encontrar o caminho, em 2021, com “Além da curta imaginação”.
“O segundo disco já é de um artista a solo, que está há procura de si própria. Está a experimentar coisas fora do que era a sonoridade de Deolinda, tentar afastar-me disso para ver quem é que eu era. Saí da minha zona de conforto, sempre à procura”.
À caminhada: Presente
Sobre o título do novo trabalho, Ana Bacalhau não quis para já partilhá-lo. Bem diferente é a familiaridade da cantora com a sua identidade a solo, “alguém confiante, que já experimentou e está agora a chegar a um lugar, que é um sítio seu, que incorpora elementos de Deolinda do território que conquistei”. Principalmente, o grande objetivo é criar um álbum diversificado, só que simultaneamente coeso. A própria reconhece que “são objetivos antagónicos, parecem, mas não há outra forma de explicar”.
“Acho mesmo que este terceiro disco é uma afirmação do meu espaço e do meu som”, reforça.
O fio condutor do disco deixa antever “uma viagem, até mesmo física, mas também emocional, do ponto A ao ponto B, com um conceito por trás, que junta canções diversificadas de autores tão díspares”.
O disco está a ser produzido por João Só, compositor e cantor que desde cedo tem feito parcerias ao lado de artistas como Miguel Araújo e Lúcia Moniz, além dos seus êxitos “Sorte Grande”, “Até ao fim” e “É pr’a ficar”.
O primeiro single da parceria, “Orelhas moucas” serviu para ver "se nos encaixávamos bem a trabalhar”: “Apesar de eu ainda não ter a maioria das canções do disco, já tinha esta vontade de voltar a um registo que me era mais familiar e que me foi familiar durante mais tempo nos Deolinda”.
Além dos temas originais de Ana Bacalhau, o disco conta com a colaboração de vários artistas portugueses, como Jorge Cruz, A Garota Não, Mariana Moreira e Agir, revela.
“Sou uma sortuda, porque estou a receber canções maravilhosas e está a ser um processo muito divertido”, confessa.
Além das certezas sonoras, a cantora rapidamente se apercebeu do mote do álbum, pois “já me estava a dar outra vez vontade de contar histórias” e foi esse o desafio lançado aos autores.
Durante o processo criativo, a cantora descobriu o prazer de interpretar as canções que lhe enviaram e assume o desafio de compreender a viagem pela qual o autor a quer levar, “também para onde nós achamos que a canção devia ir”.
Ao encontro: Futuro
Se sobre o disco ainda sobejam muitas dúvidas, certa é a vontade urgente de “ir para a estrada, já com as músicas que tenho lançado e com outras que ainda nem sequer saíram”. O disco está programado para ser editado no último trimestre do ano.
Até lá, a cantora participará em vários concertos especiais, com repertório novo. O próximo é para a semana, em Faro, na peça “Uma mulher não chora”, no Teatro das Figuras.
O tema Deolinda não perde atualidade, continuando em aberta a possibilidade de ser marcado um encontro e recordar as sonoridades de uma década. Ana Bacalhau admite ao JN que “ainda não falámos sobre isso, talvez quando algum de nós tiver essa vontade falará e aí veremos”. Do que não restam dúvidas “é que sempre uma porta aberta, porque não foi um fim. Apenas uma pausa”.
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