Ana Deus e Nicolas Tricot juntaram-se para dar música à poesia de autores atormentados, loucos ou deprimidos, com o projeto Bruta, que estreia esta sexta-feira, no Centro Multimeios, em Espinho.
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A voz de Osso Vaidoso e Três Tristes Tigres e o multi-instrumentista de Nuno Prata ou Naco interpretam "as diferentes luas" dos poetas, num ambiente criado à medida de cada um, que inclui a projeção de ilustrações de artistas marginais no grande ecrã do auditório.
Bruta começou com o fascínio de Ana Deus por Ângelo de Lima, poeta do Porto que acabou a vida internado no hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, com esquizofrenia paranoide. "Comecei a ler coisas dele e sobre ele e isso levou a interessar-me por outros autores com transtornos mentais, alguns internados em manicómios, outros não, pessoas sensíveis que desabafavam através da escrita", conta a cantora. Assim, rapidamente chegou a poetas com patologias depressivas como Mário de Sá Carneiro, que pôs termo à própria vida.
A dupla com Nicolas Tricot surgiu após a participação especial de Ana Deus no concerto de Manuel Cruz, no Silo Auto do Porto, há um ano, quando os dois se conheceram. "Ele toca vários instrumentos e eu queria criar um ambiente diferente para cada poeta e texto. Ele fá-lo lindamente, faz um trabalho maravilhoso", explica Ana Deus. Em Bruta, Tricot toca guitarra, banjo, baixo, flauta, dispara loops e manipula objetos, faz toda "uma construção em palco", que o "público poderá apreciar na perfeição" no espetáculo na sala principal do Multimeios, refere.
Manuel Laranjeira, António Gancho, Sylvia Plath, Stela do Patrocínio, António Maria Lisboa e António Joaquim Lança são os outros autores interpretados, num total de doze canções, reunidas no álbum a lançar a 27 do próximo mês no Musicbox, em Lisboa, no decurso da programação de Dias do Desassossego. Em Espinho, o disco é hoje apresentado na integra, a partir das 22 horas - bilhetes a 7,5 euros para o público geral e a 6 euros para estudantes -, depois da antestreia na Bienal da Maia, no mês passado. A 28 de novembro, Bruta passa pela Galeria de Santa Clara, em Coimbra.