O novo álbum da cantora Márcia traz colaborações com Catarina Salinas, Sérgio Godinho e Jorge Palma. Cantora e compositora atua este sábado no Porto e confessou ao JN: "Os meus discos são todos autobiográficos".
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Ana Márcia de Carvalho Santos encontrou no meio deste nome a perfeita definição artística do seu novo disco. Quando se propôs ao sexto álbum – que já circula por aí em formato físico e vai sendo revelado em digital de forma gradual – regressou à nomenclatura completa para lhe dar sopro e vida. O resultado é “Ana Márcia”, e o seu concerto de apresentação chega ao Porto este sábado, no Teatro Sá da Bandeira, pelas 21 horas, depois de um primeiro ato no Teatro Maria Matos, em Lisboa, a 10 de fevereiro.
A história de Márcia com a música remonta aos seus 13 anos, altura em que começou a materializar em letras uma vontade de cantar por que era invadida. Só por volta de 2008 deu a conhecer a sua voz ao público, através da banda Real Combo Lisbonense, onde ingressou depois de um estágio em cinema por Barcelona.
Quanto às letras que compunha e musicava, foi publicando na plataforma Myspace, que serviu de ponto de partida para conhecer outros criadores da cena musical, como B Fachada, JP Simões – que convidou mais tarde, em 2010, a participar na sua música “A pele que há em mim” – e ainda Samuel Úria.
Esta é a casa da Márcia
Sobre “Ana Márcia”, escreveu Úria: “Íntimo. O disco soa-me à casa da Márcia, que conheço. O disco vai soar-vos à casa da Márcia, que não conhecem. As canções hospitaleiras trazem a doçura e a dureza, prole e perda, das casas reais. A Márcia não poupa essa realidade doméstica. Há o mimo e o lamento, na tradição bem-aventurada dos que encontram mais verdade na partilha do que no resguardo. Intimidade luminosa contra a privacidade escura: que lição tão doce e dura que recebo.”
A primeira vez que Márcia fez uso da voz em nome próprio num estúdio foi em 2009, em dois momentos: a propósito dos Novos Talentos Fnac, onde participou numa compilação a convite de Henrique Amaro; gravou um EP com 5 músicas singelas, com voz e guitarra, de entre as quais constava uma primeira versão da já enunciada “A pele que há em mim”.
Tinha a certeza que queria ser pintora
“Emocionais, os meus discos são todos. Autobiográficos também.” É desta premissa que Márcia parte para escrever. Neste álbum em particular, insere uma parte da sua biografia na componente física do álbum: a pintura, que no booklet do disco é da sua autoria.
Frequentou o curso na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, mas nem por esta altura deixou de parte a escrita. Imersa no mundo da arte contemporânea e das artes plásticas, “faltava-me uma voz mais emocional”, conta ao JN.
Apesar de a música ser uma presença constante, a pintura impunha-se como vocação: “Eu tinha a certeza que queria ser pintora, o meu pai era pintor e era o meu reforço positivo”. Por isso e por ter um fascínio por esta forma de expressão, diz ter tirado “o curso certo”.
Um álbum, três Márcias
Em “Ana Márcia” são percorridas três fases da vida da cantora: a sua própria infância, uma adolescência que marca o início da descoberta do amor, e ,por último, a maternidade, porque Márcia “queria ser pintora, mas também queria ser mãe”.
A própria infância é explorada em quatro canções - e o ponto de partida são questões como "de onde vem esta menina, e quais são os pensamentos dela?"
Na segunda parte é olhada “a jovem mulher que encontra o amor e o desamor, e termina com uma canção muito bonita do Sérgio Godinho, de enamoramento”. Trata-se de “Às vezes o amor”, que fez cruzar os caminhos dos dois músicos já por duas vezes.
O tema escrito em 2006 por Godinho para o álbum “Ligação direta” foi interpretado por Márcia em 2013, na compilação “Voz e guitarra 2”, onde a cantora se junta aos Dead Combo para interpretar “Visões ficções”, de António Variações.
Autobiografia derramada
“O Sérgio sempre foi muito entusiasta sobre a minha escrita e isto dá-nos um certo alento e força. Quis convidá-lo a estar presente na sua própria canção”, conta Márcia, deixando transparecer a sua admiração pelo compositor.
“Quem cá está” é a canção que antecede a do amor. Em colaboração com Catarina Salinas, parte da banda Best Youth, e em quem Márcia se espelha, a música é uma evidência da cumplicidade de duas grandes amigas.
É num terceiro momento, onde a cantora faz um regresso à infância pela via da maternidade, que surge a última música com um convidado. “Um passo ao lado” foi escrita por Márcia para a voz de Jorge Palma. “É uma canção muito palmiana, que lhe cai como uma luva”.
“Ana Márcia” terá um concerto especial a 19 de novembro, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde os três convidados do álbum estarão presentes. Para este sábado, no Teatro Sá da Bandeira, Márcia vai encher o palco a solo e derramar ali a sua autobiografia musicada.