Durante mais de uma hora, esta terça-feira, ao final da tarde, no Batalha Centro de Cinema, no Porto, espetadores de várias idades e formações distintas ouviram a criadora Ana Salazar falar de moda, cruzando-a com cinema e semiótica.
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No Batalha Centro de Cinema, em conversa com João Sousa Cardoso, um dos curadores do ciclo "Sobre-vestir", a designer, de 82 anos, sublinhou que “a moda é uma forma de estar”, antes de entrar verdadeiramente no tema que a fez voltar à Invicta. Partiu do filme francês, dos anos 1960, “Qui Êtes-Vous, Polly Magoo?” - até porque, como notou, “Paris continua a ser o grande palco de moda internacional”– e para “a editora de moda que é completamente uma ditadora”.
Trata-se de uma comédia satírica que visa o mundo da moda, empolando “o poder que as editoras de moda têm, que é o caso de Anna Wintour (a atual editora-chefe da edição norte-americana da revista Vogue)”, destacou.
Na ficção, a protagonista Polly Maggoo (Dorothy McGowan) afirma que a moda é mudança e Ana Salazar reconheceu que a longa-metragem de William Klein “também tem grandes influências na moda” quer através das formas, como cortes que se refletem no trabalho de designers atuais.
Apesar da referência, a convidada defendeu que “a moda influencia muito mais o cinema, do que o cinema a moda”. “Acho que só até aos anos 60 é que o cinema influenciou a moda, pois as mulheres reviam-se muito nas mulheres belíssimas daquelas épocas, como Marlene Dietrich”, acrescentou. Para ela, “com a televisão e a internet, a influência do cinema foi-se perdendo”.
O prêt-a- porter afastou a moda do cinema, que entregou a responsabilidade dos guarda-roupas aos figurinistas, a partir da década de 1970. Como vincou a designer portuguesa, os criadores afastaram-se da sétima arte, passando a ser pontuais as suas colaborações em grandes projetos.
Reconhecida como pioneira em Portugal, Ana Salazar soma memórias e realizações que fazem parte da história da moda e podiam dar um filme. A protagonista não descarta um enredo sobre si, talvez uma adaptação de um livro biográfico que gostaria de ver escrito. “Agora tinha que ser, não é?”, atirou, piscando o olho aos editores. No seu papel, não arrisca nomes, deixando isso nas mãos de um possível “casting”, entre “atrizes interessantes” que observa no nosso país.
Ainda na sala 2 cheia, que encheu para a escutar, salientou “a beleza extraordinária” do filme “The cook, the thief, his wife & her lover”, de Peter Greenway, protagonizado por Michael Gambon e Helen Mirren, com o guarda-roupa fulgurante da autoria de Jean Paul Gaultier. A obra abriu, no início do mês, o ciclo “Sobre-vestir: Histórias de Cinema e Moda”, que decorre até 1 de novembro, no Batalha Centro de Cinema, com curadoria de Guilherme Blanc, Hanayrá Negreiros e João Sousa Cardoso.