
Livro nasce da vontade da autora de "pensar em grandes saltos"
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Obra de estreia de Ana Luís Castro põe-nos em sentido logo na primeira frase e dá cabo da etiqueta da linguagem numa desesperada, mas deslumbrante, tentativa de nos elevar acima desta miserável “contrafacção defeituosa de que somos capazes”.
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São cada vez mais raros os livros que nos complicam a vida, que esburacam esta redoma onde vamos definhando. Que colocam em causa a nossa alegada inteligência, a nossa suposta sabedoria e o nosso duvidoso discernimento. Que nos remetam para um canto remoto de nossa existência em que, nesses momentos de leitura, tudo o resto seja secundário. Escasseiam os livros que querem de nós não apenas os olhos, a visão, mas o corpo inteiro, todo o nosso ser, físico e metafísico. Num período em que tudo é pensado e feito para nos simplificar os dias, uns atrás dos outros – sempre em prejuízo e dificultando as vidas de outros tantos, diga-se –, também o mundo literário (escritores e leitores) e o meio editorial cederam, praticamente sem dar luta, a este regime “fast”, em que tudo, comida, roupa, informação, livros, etc, tem que ser consumido avidamente, num descontrolo tal deixa em risco a nossa sanidade: afinal, os livros que valem a pena são os que se lêem “num fôlego”. Neste sentido, não deixa de ser interessante, mas compreensível, que as editoras mais modestas (em dimensão, meios, mediatismo) são as mais ambiciosas e audazes naquilo que propõem ao “público”.
