Rogério Charraz, José Fialho Gouveia, Joana Alegre e João Afonso dão voz, no Teatro Tivoli, às canções que celebram vidas e façanhas da Revolução dos Cravos. É já esta segunda-feira, em Lisboa.
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É uma feliz coincidência, quase uma serendipidade: no ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, marca-se também o centenário do Teatro Tivoli BBVA, um dos mais antigos e icónicos espaços culturais do país.
O tempo é de festa e no meio de uma programação forte e diversificada, o Tivoli apresenta neste final de janeiro aquele que é também um ponto de partida para as celebrações da Revolução dos Cravos. “Anónimos de Abril”, um espetáculo musical que dedica 14 temas a nomes desconhecidos do grande público que marcharam pela liberdade durante o período de ditadura, acontece já esta segunda-feira, às 21 horas.
Rogério Charraz, José Fialho Gouveia, Joana Alegre e João Afonso dão voz, música e alma às canções que homenageiam as histórias dessas pessoas, feitas de “flores, perseguição, tortura e fugas”, abordando temas como a clandestinidade, atividades de resistência ou as prisões políticas do regime.
Cada tema é dedicado a um nome, que participou e impactou, ainda que na sombra, a caminhada coletiva pela liberdade que culminou com aquele histórico dia de abril, em 1974.
O caso do casal Carvalho
Segundo a entidade gestora do Tivoli, entre essas histórias contam-se a de Herculana Carvalho e Luiz Alves de Carvalho, por exemplo. O casal conseguiu uma autorização inédita para visitar o filho na colónia penal do Tarrafal e fotografou todos os presos e as campas dos prisioneiros mortos. No regresso a Portugal, procurou as famílias dos detidos, para lhes entregar as fotografias.
De entre os que lutaram na clandestinidade, “Anónimos de abril” recupera ainda a história de Branca Carvalho, que se transformou em Mariana, deixando a família e amigos para trás.
Francisco Sousa Mendes, neto do cônsul Aristides Sousa Mendes, é outro dos retratados. No dia da Revolução, integrou a coluna de Salgueiro Maia e foi um dos homens que escoltou Marcello Caetano após a tomada do Convento do Carmo, adianta a UAU.
Dos “rodapés” da História da Revolução dos Cravos, até agora, finalmente para um palco principal, conta-se assim uma história feita de histórias: esta segunda-feira, pelas 21 horas.
A homenagem continua no feminino
Quase um mês depois, a homenagem a abril no Tivoli continua, desta feita exclusivamente no feminino. “Celebramos a Mulher, Celebramos a Revolução” é o mote do espetáculo “A Mulher é uma arma”, que vai juntar a 28 de fevereiro no mesmo palco, algumas das melhores vozes femininas que cantam em português.
Neste novo espetáculo, Ana Bacalhau, Katia Guerreiro, Luanda Cozetti, Patrícia Antunes, Patrícia Silveira, Rita RedShoes, Sofia Escobar e Viviane estarão acompanhadas por um grupo de músicos dirigidos pelo produtor e compositor Renato Júnior.
Ao vivo, cada artista irá imprimir uma identidade própria a cada uma das canções e poemas que evocam a memória de 50 anos de democracia e liberdade.
Criado por Renato Júnior, o espetáculo pretende ser uma “viagem à luta pela liberdade”, recuperando temas musicais e textos líricos de nomes incontornáveis da cultura de intervenção como Manuel Alegre, José Afonso, Sérgio Godinho, Chico Buarque, Natália Correia, Maria Lamas, Sophia de Mello Breyner, entre muitos outros.
As atuações das oito cantoras serão acompanhadas por vídeos originais da época, criando uma “verdadeira ode aos princípios da liberdade e uma homenagem aos valores de Abril”, explica a promotora UAU. Afirmação de liberdade, emancipação social e independência nacional são evocados, e também celebrados.