“Antípodas”, de Florencia Oz, está este sábado no palco do Teatro de Vila Real.
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Florencia Oz leva ao palco do Teatro de Vila Real “Antípodas”, um espetáculo de flamenco que desafia convenções e desconstrói tradições, sem nunca lhes virar as costas. No jogo entre o passado e o presente, entre a terra e o corpo, entre a contenção e a explosão, a bailaora chilena percorre um caminho de contrastes - um diálogo entre opostos que nunca se anulam, mas que se potenciam.
Desde o primeiro instante, Florencia Oz impõe uma presença magnética: o corpo é território de tensão, onde o flamenco se afirma e se reinventa. A sua dança, de uma fisicalidade feroz, não se limita ao virtuosismo técnico, mas abre espaço para a vulnerabilidade. A respiração torna-se ritmo, a pausa é tão eloquente quanto o movimento, e o silêncio adquire uma força quase sonora.
Acompanhada por músicos que entendem o flamenco como uma matéria viva, mutável, Florencia Oz constrói uma dramaturgia de contrastes: ora desafia a gravidade com sapateados furiosos, ora se entrega a gestos mínimos, quase impercetíveis. Em “Antípodas”, a força bruta do compás encontra a delicadeza do gesto suspenso, num flamenco que não teme as suas fissuras.
O espetáculo articula-se como uma reflexão sobre identidade, pertença e rutura. A tradição do flamenco está presente, mas fragmentada, reinventada a partir da linguagem pessoal de Florencia Oz. O compasso não é estático - é questionado, alongado e reinventado. A intérprete não é refém dos códigos clássicos, mas usa-os como ponto de partida para uma exploração mais profunda do movimento e da memória.
Formada em dança contemporânea antes de se estabelecer em Sevilha, tem desenvolvido uma abordagem que funde técnica e experimentação, recusando os limites rígidos da tradição. Em “Antípodas”, essa visão atinge um novo patamar de maturidade.