
Peça conta com António Fagundes, Christiane Torloni, Thiago Fragoso e Alexandra Martins no elenco
Foto: António Fagundes / Instagram
A peça "Dois de nós" oscila entre a comédia e a tragédia, com caricaturas da vida dos casais com as quais é difícil não nos identificarmos
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A comédia, que também pode fazer chorar, "Dois de nós", com António Fagundes, Christiane Torloni, Thiago Fragoso e Alexandra Martins no elenco, já passou pelos Açores, por Lisboa e pelo Porto, com casas cheias, e está, esta sexta-feira e sábado, na Casa das Artes, em Famalicão. A peça continua depois a circular, até 14 de dezembro: Coimbra, Figueira da Foz, Aveiro, Oliveira de Azeméis, Leiria, Faro. O espetáculo assenta no encontro entre dois casais (na verdade, é o mesmo) de gerações diferentes, num quarto de hotel. A reunião serve de pretexto para desfiar as desventuras que tiveram de enfrentar e aquilo que alcançaram, em jeito de balanço e em tom de comédia, mas tratando de temas sérios que (aviso aos mais sensíveis) poderão fazer correr algumas lágrimas.
O argumento, escrito por Gustavo Pinheiro, situa a ação num quarto de hotel, depois de uma festa. O casal Pedro Paulo e Maria Helena revisitam as memórias de uma vida a dois: os filhos, os amigos, os episódios que a memória dele reconstrói de uma maneira e a dela de outra. Eis então que surge no quarto o mesmo casal, vindo de uma festa de Carnaval, mas com menos algumas décadas, num tempo antes de todas aquelas memórias se desenrolarem. "Mas eu não tenho hemorroidas!", protesta Maria Helena, a jovem, a certa altura, "mas vai ter", sentencia Maria Helena já vivida.
É um espetáculo para cansar a musculatura facial de tanto rir, porém, não evita ir ao lado mais sombrio da vida dos dois personagens. O filho que morreu em circunstâncias trágicas e o que isso fez a Maria Helena, a Pedro Paulo e aos dois como casal. A peça fica no buraco apenas o justo tempo para os mais sensíveis soltarem uma lágrima, suficiente para deixar no ar uma lição: "na vida, há coisas que não controlamos". No que é essencial os seres humanos são muito parecidos e se por vezes há alguma coisa que os portugueses têm mais dificuldade de compreender, isso não é problema para captar a mensagem. "Deixa prá lá", Maria Helena, a jovem, também não sabe o que é a Netflix.
Novos e velhos atribuirão diferentes significados
Apesar de ser uma caricatura do que é a vida a dois, está bem feita, os traços essenciais estão lá e a maior parte dos espetadores vão-se identificar, embora nem todos da mesma forma. Os mais jovens tenderão a olhar para o horizonte da vida que têm pela frente, com mais cautela, depois de conhecerem os segredos do casal Pedro Paulo e Maria Helena, os mais velhos, encontrarão a consolação de não ter acontecido só com eles.
Para ver hoje e amanhã, às 21.30 horas, em Vila Nova de Famalicão, na Casa das Artes, em Coimbra, a 18 e 19 de novembro, no Convento São Francisco, em Aveiro, a 20 a 23 de novembro, no Teatro Aveirense, em Oliveira de Azeméis, a 25 e 26 de novembro, no Teatro Municipal, na Figueira da Foz, a 28 e 29 de novembro, no CAE, em Leiria, de 4 a 7 de dezembro, no Teatro José Lúcio da Silva e em Faro, de 11 a 14 de dezembro, no Teatro das Figuras. António Fagundes pede, depois de cada espetáculo, para avisar que é preciso chegar um pouco antes da hora marcada, porque depois de começar ninguém entra, "por respeito ao público que chegou a horas".

