Cantor e compositor apresenta "Voz e violão", o novo disco, hoje no Porto.
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Ao nono álbum, António Zambujo regressa às origens. Com "Voz e violão", título que é em si mesmo uma homenagem ao seu ídolo João Gilberto, o músico alentejano cruza fronteiras e territórios sonoros, mas (quase) sempre a solo. A apresentação oficial do disco acontece já hoje à noite na Super Bock Arena, no Porto.
Este disco é um regresso a um porto seguro depois do rebuliço do anterior, "Do avesso"?
O disco a solo é uma ideia antiga, vem da "Rua da Emenda", em 2014. Depois da salganhada em palco de "Do avesso", com sete músicos e arranjos para orquestra, senti a meio da digressão que tinha vontade de concretizar este projeto.
Vê o disco como uma espécie de apologia do despojamento?
Sempre defendi isso na música que faço. Não que tenha nada contra outra forma de pensar as músicas, mas no trabalho que faço há sempre uma exploração dos silêncios e do caos. Neste disco, como estou sozinho com a guitarra, é mais fácil esse despojamento.
Como é que alguém que sempre viveu muito da cumplicidade artística se vê subitamente sozinho em palco?
É assim que começam todos os discos. Comigo sozinho. O processo de gravação inicia-se comigo com a guitarra, a pensar nos arranjos e na escolha do repertório. Só depois começamos a acrescentar as camadas, outros instrumentos. É solitário, mas acho que vou gostar.
Apesar de ser um disco a solo, há muitas versões com a marca de grandes artistas. É uma solidão acompanhada?
O processo de cantar e tocar nunca é muito solitário, porque temos lá as nossas influências, que nos trazem ideias e memórias.
No disco encontramos temas influenciados pelo fado, MPB, morna, cante alentejano ou jazz. Há muitos Zambujos?
O que define a identidade de um músico é aquilo que ele escuta. Por isso, o que faz acaba por ser influenciado por esses intérpretes. Músicos como o Sinatra, Chet Baker, João Gilberto, Chico Buarque ou Tom Waits moldaram-me.
Acredita que "só com uma voz e uma guitarra é possível parar uma rua inteira", como canta em "Lote B"?
Não sei se teria essa capacidade, mas sei que isso é possível. Um dos meus maiores ídolos, o João Gilberto, fazia isso na perfeição.
Vê-se a abrandar o ritmo de concertos no futuro, como o Miguel Araújo já disse que ia fazer?
A sucessão é uma coisa natural. Inevitavelmente - não por vontade própria, mas porque é a lei da vida - vão aparecer novos artistas e passarei a fazer menos concertos. É a lei da vida e do mercado. Por isso, prefiro que seja eu a ser chutado pelo mercado e não o contrário.
Como viveu os dias de confinamento?
Fiquei triste, desmotivado e preocupado. Acima de tudo, com pouca vontade de fazer coisas. Houve propostas para fazer eventos online, mas nunca senti um verdadeiro apelo. Fiz um concerto nesses moldes no início do confinamento e não gostei. Fiquei ainda mais triste por tocar para um ecrã de computador e não tive vontade de fazer mais.
Vai haver uma vontade de as pessoas regressarem em força às salas de espetáculo, depois de estarem tanto tempo fechadas?
Ainda não dá para perceber como vai ser. É tudo muito recente. Nem sei se as coisas vão voltar um dia ao normal. Desde que as salas reabriram, assisti apenas ao espetáculo da Luísa Sobral e do Salvador e o que posso dizer é que achei tudo estranho, com as máscaras e as cadeiras vazias.