Paulo Ribeiro regressa em companhia ao Teatro Nacional São João com "Segunda, 2"
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Por norma, as segundas-feiras têm uma aura pesada, como se todas as pessoas aspirassem a chegar a sábado, esse Santo Graal semanal em que tudo de bom acontece. O coreógrafo Paulo Ribeiro fez o caminho no inverso e começou no "Sábado 2", em 1995, para se encontrar, 26 anos depois, a desejar uma "Segunda 2", com récita esta quinta e sexta, no Teatro Nacional São João, no Porto.
O espetáculo não é uma rememoração, é o desejo de que haja muitas segundas-feiras de recomeço. É também uma declaração de intenções, porque retoma as rédeas da sua companhia depois de um hiato em que esteve à frente de outros projetos, como a direção da Companhia Nacional de Bailado. A obra é solar e Paulo Ribeiro quer muito criar e deixar a sua marca de água.
O elenco masculino é muito físico, com poucos vislumbres de uma dança balética, há avistamentos de novo circo e de dança urbana. O elenco feminino é leve e etéreo, com uma educação formal em dança evidente.
Os figurinos de José António Tenente conseguem evidenciar muito estas linhas e trazer singularidade aos corpos dos intérpretes, não lhes conferindo uma camada de heterogeneidade, mesmo quando estão todos vestidos de negro.
Como uma alegoria dos tempos vividos, em que estamos juntos sozinhos. Também a composição coreográfica parece seguir esta máxima.
A cenografia de João Mendes Ribeiro, com o mobiliário em suspenso, lembra-nos que para todas as segundas-feiras também assim está a realidade. Ou será que é exatamente no inverso?
A música confere uma forte componente anímica ao espetáculo, capaz de fazer voar as ideias e as palavras mais loucas que se pronunciam. Uma profusão que decorre, por vezes, a velocidade vertiginosa e, outras, de forma irritantemente lenta. A sorte é para os que não sabem e Paulo Ribeiro sabe muito. Mas não é por isso necessário lembrar todos os trabalhos que criou nesse longo fim de semana que separa sábado de segunda. É preciso um novo olhar. Ele não é o mesmo, e o público também não.