Novo documentário na RTP Play assinala os 40 anos do programa de Herman José que mudou para sempre o humor em Portugal.
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O especialista em futebol e “pomada” José Esteves; o impertinente Nelito; a histriónica Jaquina; a enfunada Filipa Vacondeus ou o “verdadeiro artista” Tony Silva. Quem se lembra destas personagens há de associá-las ao riso que faz doer a barriga.
Quem não se lembra, vai ainda a tempo de conhecer um dos melhores programas de humor português de sempre – ou mesmo “o melhor programa de sempre da televisão portuguesa”, segundo a eleição promovida em 2007 pelo DN, Time Out e as Produções Fictícias. Chama-se “O Tal Canal” e o génio que o inventou é Herman José.
É o próprio que conta a história no documentário que assinala os 40 anos do programa emitido entre outubro de 1983 e janeiro de 1984.
É ainda um produto da liberdade trazida pelo 25 de Abril, até porque, sem a revolução, provavelmente não teríamos Herman: “Tinha optado pela cidadania alemã para evitar ir para a guerra colonial e já fora intimado a abandonar o país”, diz o humorista enquanto se passeia pelo Museu da RTP, onde se encontram adereços, manuscritos e outras memórias do programa.
Essa liberdade e alegria manifestaram-se primeiro em “Sr. Feliz e Sr. Contente”, rubrica de 1975 dividida com Nicolau Breyner. Seguiram-se sketches em “O Passeio dos Alegres”, de Júlio Isidro. E, depois de uma primeira recusa, a RTP deu luz verde a Herman para que inventasse um programa de humor.
“Liguei a ideia às brincadeiras de infância, quando criava rádios, canais, universos”. “O Tal Canal” parodiava o universo da TV, do genérico aos anúncios de publicidade, das entrevistas aos blocos noticiosos e aos programas de autor.
Criou a sua trupe, onde pontificavam atores como Vítor de Sousa, Lídia Franco, Margarida Carpinteiro ou Helena Isabel, e convidou o quem é quem da cena musical da época – Sérgio Godinho, Heróis do Mar ou Rui Veloso.
O resto foi só rir, graças a um humor desbragado que reinventou a comédia portuguesa – ainda presa ao estilo da revista. A única angústia ia para os aderecistas, conta Herman, uma vez que era frequente as suas personagens espatifarem, literalmente, peças e cenários e tudo.