“Aqui”, novela gráfica de Richard McGuire, é uma viagem simultânea pela história do planeta e das vidas comuns.
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Em boa hora Robert Zemeckis decidiu adaptar ao cinema “Aqui”, de Richard McGuire (n. 1957). E em ótima hora a Penguin Random House avançou com a edição em português da novela gráfica originalmente publicada em 2014. O filme chamou a atenção, o livro permite ao leitor contactar com uma obra fascinante, vencedora do Festival de BD de Angoulême em 2016.
A simplicidade genial de “Aqui” – que apela a apreciadores de BD, artes visuais, cinema, teatro, História – traduz-se nesta ideia: o espaço de uma sala, uns quantos metros quadrados, é representado ao longo de milénios; antes de haver sala, depois de haver sala, durante a existência na sala de múltiplas vidas e situações.
Zemeckis disse que o livro “é uma meditação sobre a passagem do tempo que nos mostra que nada é permanente”.
Uma passagem do tempo na história do planeta, que percorre um arco de milhões de anos a.C. até 22 175, revelando dinossauros, megafauna e espécies futuras. Uma passagem do tempo na história da humanidade, da vida dos nativos no continente americano à chegada dos colonos europeus, do contexto da independência dos EUA – onde surge Benjamin Franklin em conflito com o filho – a um futuro imaginado e pouco auspicioso, com a Terra alagada e já sem humanos.
Finalmente, há a passagem do tempo para o homem comum, que no espaço daquela casa, construída em 1907, amou, brincou, zangou-se, dançou, cresceu, viveu e morreu.
Estes vários tempos e dimensões sobrepõem-se: numa mesma página há fragmentos de situações passadas em 1959, 2015 ou 110 000 a.C. Alguém consulta o relógio num determinado ano e ao lado, noutra época, há um casal que discute, tudo enquadrado pela floresta que ali existia no século XVII. É preciso estar atento às datas que sinalizam os vários segmentos de cada página.
As rimas de eventos são exploradas por McGuire. Em várias épocas distintas, houve gente diferente que festejou naquele espaço, houve gente que perdeu coisas, houve gente a insultar-se, houve afeto infinito.
“Aqui” é qualquer lugar do Mundo sujeito às forças misteriosas que conduzem a existência.