25 volts prossegue no Porto, até domingo. Coletivo chileno Olivier&Thümler destacado.
Corpo do artigo
O trabalho de Olivier&Thümler nasce daquilo que insiste em permanecer entre ruína e esperança. O coletivo chileno, formado em 2019, ergueu como fundação uma pergunta que é também ferida aberta chilena: "¿Dónde están?" A partir dela, inventam uma cena que não cessa de interrogar, cruzando poesia, teatro e política num gesto simultaneamente íntimo e insurgente.
Em "Oleaje", Marta Ugarte Román, a militante comunista, sequestrada e lançada ao mar em 1976, habita agora um espaço feito de vozes sobrepostas, onde o corpo ausente se converte em presença inquieta. O espetáculo não a transforma em mártir nem a cristaliza em arquivo. Abre antes o abismo de uma memória que respira, uma geografia de violência que insiste em revelar-se através da cena. A cada instante, a pergunta ecoa: como conversar com os mortos que nos olham?
Com "Duelo", o coletivo desloca a atenção para as mulheres grávidas violentadas e desaparecidas durante a ditadura chilena. Ali, o ventre é lugar de revolta e de perda, mas também de futuro entrevisto. A cena fúnebre e fantasmática não se limita ao lamento: constrói a possibilidade de encontro com vidas roubadas, devolvendo-lhes uma linguagem que é ao mesmo tempo ritual e insurreição. Os dois espetáculos presentes no 25 Volts "Oleaje" e "Duelo" configuram uma arqueologia do trágico, mas uma arqueologia em movimento, porque os vestígios que exuma não são fósseis: são pulsos.
Olivier&Thümler recusam a narrativa pacificada e oferecem uma teatralidade hostil, dissidente, profundamente contemporânea. No seu gesto há ferida e ternura, ruína e cuidado, como se a cena fosse um lugar para sentar-se com os fantasmas e escutá-los até ao fim.
"Oleaje" ainda pode ser visto hoje e amanhã às 20 horas.
"Oleaje" -Olivier&Thümler
CRL-Central Elétrica Porto
Hoje e amanhã, 20 horas