"Estética, resistência e melancolia" inspira-se no colossal trabalho de Peter Weiss.
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A monumental obra do pintor, cineasta e dramaturgo alemão Peter Weiss (1916-1982) "A estética da resistência", publicada em três volumes entre 1975 e 1981, e resultado de uma extensa investigação em arquivos e lugares e de entrevistas a centenas de pessoas, é a "arca do tesouro" esgravatada por Rui Pina Coelho, que a adaptou livremente para o espetáculo "Estética, resistência e melancolia", encenado por Gonçalo Amorim para o Teatro Experimental do Porto. Afinidades entre resistência política e arte e a busca de um "working class hero" são os eixos centrais da proposta.
"Baú de memórias das lutas da esquerda europeia", nas palavras de Pina Coelho, os volumes de Weiss, que percorrem episódios como a Revolução Russa, a Guerra Civil Espanhola ou a situação da Alemanha entre guerras, foram escritos depois do autor abandonar o projeto de adaptação de "A divina comédia". "Acabou por tornar-se a sua própria "Divina comédia", ou uma autobiografia desejada", diz o autor da peça, que na sua arquitetura faz a citação do poema de Dante, organizando a ação num prólogo e três partes compostas por 33 cantos.
Tudo parte da observação do friso do Altar de Pérgamo, que se exibe num museu em Berlim. Três jovens operários comunistas alemães, dois deles figuras reais e o terceiro um avatar de Peter Weiss, discorrem sobre a ausência de Héracles na peça que representa a guerra mitológica entre deuses e gigantes. Ficam lançados os dois principais temas: a ligação entre arte e luta política, explorada na evocação de dezenas de obras de várias épocas, de Goya e Géricault a Kafka e Brecht; e a necessidade de preencher o vazio deixado por Héracles, entendido pelos protagonistas como "campeão dos escravos, dos trabalhadores e dos oprimidos".
A encenação de Gonçalo Amorim convoca espaços de contemplação - estúdio de artista, igreja, museu - e uma série de figuras alegóricas - trabalhador, poeta, selvagem - para uma "litania" onde se procura "muscular culturalmente" as posições de combate à exploração e à tirania.
Estética, resistência e melancolia
Teatro Carlos Alberto, Porto
Até 10 de abril
