
"Ernest & Célestine" já nos cinemas
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Realizadores de "Ernest & Célestine: A Viagem em Charabie" falam ao JN
As aventuras de Ernest, um grande urso de bom coração, e de Célestine, uma pequena ratinha de forte personalidade, foram publicadas desde 1981 até à morte, em 200", da sua autora, a escritora e ilustradora belga Gabrielle Vincent, pseudónimo de Monique Martin. Depois de um primeiro filme de animação, "Ernest & Célestine", de 2012, e de uma série de televisão com 26 episódios, surge agora novo filme, "Ernest & Célestine: A Viagem em Charabie". As duas personagens estão de volta ao país de Ernest, para este arranjar o seu violino partido. Descobrem no entanto um país onde toda a forma de música está banida e apenas uma nota é permitida. Ernest e Célestine têm de dar o seu melhor para trazer de volta a música e a felicidade à terra dos ursos. O JN foi a Paris falar com os dois realizadores do novo filme, já nas salas, Jean-Christoph Roger e Julien Chheng.
Porque demorou dez anos a fazer um segundo filme, quando o primeiro foi um grande sucesso? 10 anos
Jean-Christoph Roger (JCR) - Houve uma busca para encontrar uma história interessante. Os produtores queriam encontrar uma ideia original que valesse a pena. Depois houve todo o processo de financiamento. Nós trabalhámos dois anos e meio na realização do filme, mas antes já tinha havido um enorme trabalho ao nível do guião.
Porquê então esta história em particular, no universo de obras de Ernest & Célestine?
Julien Chheng (JC) - O que agradou nesta história foi falar de emigração. Ernest é um emigrante, que toca violino para sobreviver. Vem de um país longínquo, que Célestine não conhece. É um ponto de partida muito interessante. E ao mesmo tempo fala do mundo, de certos países, de certas culturas, de alguns lugares na Terra, onde não se pode fazer o que se quer, onde as regras impõem uma certa trajetória na vida das pessoas.
É isso que dá uma certa atualidade a esta história...
JCR - Nesta história tínhamos também uma espécie de grande aventura, é a primeira vez que Ernest e Célestine se mudam para um universo imaginário, a Charabie. Na série tudo se passa numa Ernest e Célestine sempre estiveram muito ligados à vida e à realidade. Charabie vive numa ditadura, onde há leis absurdas Integrámos todo esse aspeto da sociedade, num país imaginário, mas com humor e com poesia. Mas inspirámo-nos do mundo à nossa volta.
Os dois já tinham começado a trabalhar na série de televisão...
JC - Foi lá que descobrimos a corealização juntos, que nos ligámos muito às personagens. Quando começámos o filme já as conhecíamos bem e queríamos levá-las até Charabie, mas com doçura, da forma como Gabrielle Vincent o faria. É assim que trabalhamos juntos nos aspetos criativos do filme. E depois, nos aspetos técnicos, dividimos o trabalho, porque há uma grande equipa a dirigir.
JCR - Quando dirigimos a dois é como se conduzíssemos um carro a dois, mas com um só volante. É preciso saber exatamente para onde vamos. É claro que podemos discutir o itinerário, mas se tivermos duas visões diferentes, se um quiser ir a Roma e o outro a Copenhaga, vamos discutir o tempo todo. Partilhamos o tipo de filme que queremos faze e é assim que depois podemos dirigir uma centena de pessoa e fazermos todos o mesmo filme.
Do ponto de vista tecnológico e de meios deve haver uma grande diferença entre televisão e cinema...
JC - Para a série tínhamos um orçamento muito mais reduzido. Um orçamento de televisão. Mas nesta segunda longa-metragem, queríamos realmente regressar à tecnologia tradicional, porque tínhamos mais tempo para o fazer. Trouxemos pessoas da equipa do primeiro filme, mas também um grupo de jovens muito talentosos que reunimos à volta do projeto.
Como é que se articulou o vosso trabalho com os diversos animadores?
Cada animador ou animadora só podia avançar um segundo por dia. Na animação é preciso ser muito paciente. Mas é isso que dá o charme, porque o traço do desenho de Ernest e Celestine é muito instintivo, muito solto. É o gesto do artista. Queríamos que cada cena tivesse esse tipo de imperfeições, essa liberdade. E tivemos tempo para o fazer.
Lembram-se da primeira vez que leram uma história de Ernest e Célestine?
JCR - A minha mulher é japonesa. Ernest e Célestine teve imenso sucesso no Japão. A minha mulher era fã e tinha todos os livros em japonês. Quando casámos veio com vários caixotes cheios de livrso. Ela adora livros para crianças. Foi um pouco assim que conheci Ernest e Célestine
JC - Eu não cresci com esses livros. Descobri-os ao trabalhar no primeiro filme, há dez anos.
Os livros são ainda muito populares hoje em dia?
JCR - Eu trabalhei numa escola, com crianças que vinham de todo o mundo. Para me apresentar, mostrei imagens de Ernest e Célestine e vi crianças do Congo, da Venezuela, da Ásia, que conheciam as personagens. A série viajou por muitos países. Há crianças em todo o mundo que conhecem Ernest e Célestine. Os livros também são conhecidos, mas é sobretudo a série que foi importante para dar a conhecer as personagens,
JC - Os álbuns também viajaram bastante, há muitos fãs, que gostam do bom desenho e da doçura que atravessa as histórias de Ernest e C´dlestine. O trabalho do cinema e da televisão permitiu abrir isso para todos os públicos.
Como é que se obteve os direitos de adaptação ao cinema?
JCR - Ao princípio a Gabrielle não era favorável a que se fizessem desenhos animados, porque tinha tido uma má experiência. Mas o sobrinho e a família que herdou a
Fundação Gabrielle Vincent, compreenderam que para que as crianças de hoje conhecerem Ernest e Célestine a animação é muito importante.
O que os levou aos dois em primeiro lugar à animação?
JC - Eu sempre adorei desenhar. A minha mãe é montadora de documentários e de filmes, fui também muito influenciado por ela. E como sempre adorei desenhar virei-me para a animação, que reúne as artes plásticas, o som, a imagem, a música, a montagem. A animação é uma arte total.
JCR - Quando era pequeno o meu pai comprou um projetor e passava pequenos desenhos animados em casa. Tive essa iniciação muito cedo e quando tinha aulas de matemática fazia desenhos no caderno. Por vezes tinha más notas por causa disso, mas outras vezes o professor até os admirava.
Vai haver um terceiro filme?
JC - Depende se o filme vai fazer bem em França e no estrangeiro. Nesse caso dará vontade de fazer um terceiro. Há tantas histórias para contar de Ernest e Célestine no cinema.
