Novo filme de António Ferreira tem ante-estreia neste domingo em Coimbra, com São José Correia e Estêvão Antunes como protagonistas
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Lucas (Estêvão Antunes) é um cozinheiro de origem humilde que, para pagar as contas à tangente, tem de fazer o mesmo bife com batatas fritas num negócio de entregas de aplicativo, sem horário, sem ócio, sem rede que o ampare. Para além disso, está em vias de perder a casa onde vive com a mãe, para ser construído um hotel. Através do seu talento para a cozinha, começa, aos poucos, a entrar no mundo de América (São José Correia), uma estrela de televisão e candidata a presidente. É este o mote de “A Bela América”, filme que marca o regresso do realizador António Ferreira, cinco anos depois de “Pedro e Inês”, e que tem ante-estreia no domingo, na Casa do Cinema de Coimbra, estreando em todo o país a 5 de outubro.
“O filme incide em questões que me preocupam e que são atuais, como as desigualdades sociais, a crise da habitação e a precariezação do trabalho, feito com base em aplicativos, sem qualquer proteção social, que leva a que as pessoas sejam autoescravizadas para poder pagar as suas contas. Era uma ideia que já tinha em mente há algum tempo, mas que só agora consegui concretizar”, conta António Ferreira ao JN.
“A Bela América” chega cinco anos depois de “Pedro e Inês”, que estreou em outubro de 2018. “Como realizador, o meu trabalho é fazer cinema, por isso é natural que depois de um filme, faça outro. Quando acabo de fazer um filme já tenho o seguinte escrito. Desta vez consegui um objetivo, de reduzir o tempo entre um filme e outro, para cinco anos. O último antes de 'Pedro e Inês' ('Embargo') tinha sido oito anos antes”, lembra o realizador.
Cinema fora de Lisboa
Para além de Estêvão Antunes e São José Correia, “A Bela América” conta no elenco com Custódia Gallego, Carlos Areia e os conimbricenses Daniela Claro e João Castro Gomes. À semelhança dos outros filmes do realizador, também este foi todo rodado em Coimbra, a sua cidade natal.
“Filmar em Coimbra não é uma teimosia, é uma convicção. É a cidade onde nasci e cresci, a cidade que gosto e o meu local para filmar. É também um desafio ao centralismo, porque o cinema no norte não é igual ao do sul, como a música e outras artes não são iguais consoante o local de origem. No cinema é mais grave, porque 99% das produções são em Lisboa”, aponta António Ferreira, sublinhando a importância de haver cinema noutros pontos do país, feito pelas pessoas locais. “Temos situações ridículas de pessoas a imitar o sotaque do norte ou do Alentejo. Só se combate isto fazendo os filmes nos locais com gente de lá”, considera.
“A Bela América” é a quarta longa metragem do realizador de 53 anos, depois de “Esquece tudo o que te disse” (2002), “Embargo” (2010) e “Pedro e Inês” (2018).