Não há homicídios, é certo, mas há drama, humor e sátira que, por algum motivo, nos são familiares. Entretanto percebemos porquê.
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Há muito do retrato social bem-disposto de “White Lotus”, de Mike White, na minissérie “As Quatro Estações”, que estreou no início de maio na Netflix. A história não desilude – vamos falar sobre dúvidas existenciais depois dos 50 anos? – mas os argumentos de luxo começam no elenco.
Inspirada no filme “The Four Seasons”, de 1981, a produção reúne nomes como Steve Carell (o eterno rosto de “The Office”), Tina Fey, Colman Domingo (“Euphoria”) e Will Forte (“The Last Man on Earth”). Três casais de amigos de longa data habituados a passar férias juntos, nas diferentes estações do ano, são confrontados com novidades surpreendentes e alterações de rotina que abalam totalmente o laço que os une.
Enquanto Anne prepara uma festa surpresa para o marido, num ato simbólico de renovação dos votos matrimoniais, o companheiro, Nick, ganha coragem e conta aos amigos que pretende pedir-lhe o divórcio. Ao fim de 25 anos de casamento, a personagem interpretada por Carell já não suporta o cansaço constante e a falta de entusiasmo da mulher. “Ficamos na mesma divisão a monitorizar ecrãs diferentes...Como colegas numa central nuclear”, descreveu, deixando-os perplexos.
No encontro seguinte, no verão, Nick foi acompanhado da nova namorada, duas décadas mais nova e constantemente a tentar conquistar, sem grande sucesso, as pessoas que fazem parte da vida do companheiro. As necessidades são diferentes e não há nada de errado nisso. As comédias podem ter pressupostos belos e a prova está no nosso ecrã: o casamento e o próprio ser humano também passam por quatro estações. Envelhecer é simultaneamente leve e doloroso, mas há uma certeza aconchegante. Os verdadeiros amigos caminham ao nosso lado, a passo firme, sem julgamentos nem prazos de validade.